Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Carlos Lobato, nascido em 1962 em Lisboa, teve o privilégio de fazer farte de uma geração jovem que viveu a transição do antigo regime em Portugal para a nova democracia, em Abril de 1974. Tempos conturbados de escola, onde o caos imperou durante alguns anos de liceu, mas com a sorte e aproveitamento de entrada no país "da cultura que se fazia lá fora", assim como o desenvolvimento nacional das artes da escrita, música, teatro, pintura, que aos poucos foram conquistando o espaço cultural nacional, tão vazio até então. Usufruiu do negócio livreiro do pai, na altura, onde o prazer pela leitura e escrita se enraizou pelo fácil acesso a obras literárias. A escrita sempre fez parte da sua vida, não se tendo nunca preocupado em guardar o que escrevia, até muito recentemente. Habita actualmente em Londres no Reino Unido.
“Não existe ninguém que eu conheça que chegue perto da genialidade deste homem. Tem um poder enorme em mim, que muitas vezes me transtorna quando o leio. Varias leituras só as consigo por fases, porque me influenciam sobremaneira. Alem do poeta inigualável, os contos, e essencialmente a sua explosão de escrita existencialista que transmite em tantas obras, transferem por vezes um pouco da sua em minha "loucura".”
Boa Leitura!
SMC - Escritor Carlos Lobato para nós é um prazer tê-lo conosco no projeto “Divulga Escritor”, conte-nos quando começou a escrever? Em que momento decidiu ser escritor?
Carlos Lobato - Desde bastante novo que a literatura me atrai, uma das principais razoes, terá sido o facto de o meu pai ser livreiro durante muitos anos, e ter sido para mim facil o contacto com livros. O cheiro dos livros, a curiosidade de tantas obras foi crescendo, lendo vários livros com a facilidade de não ter de gastar para isso, e o "vírus" enraizou. Durante muitos anos, fui escrevendo pequenas coisas que acabei por nunca guardar. Só ha cerca de ano e meio atrás, decidi finalmente guardar o que escrevo.
SMC - Qual o público que você pretende atingir com o seu trabalho? Que mensagem você quer transmitir para as pessoas?
Carlos Lobato - Esta pergunta e pertinente, porque não tenho publico definido. Poderá parecer um pouco egoísta, mas quando escrevo, abro uma porta interna, onde flui o que me vai na alma, essencialmente em poesia. Talvez o primeiro destino da minha escrita seja eu próprio. Naturalmente, decidi começar um blog, tomar partido, aproveitando as facilidades tecnológicas de hoje, partilhando essencialmente com vários grupos de poesia espalhados pelo mundo. A minha mensagem, tem a ver com a injustiça que reina desenfreadamente, preocupando-me sobremaneira as crianças, a fome, o abuso escandaloso que cresce nos humanos contra a própria Humanidade. O existencialismo, e uma outra paixão própria que sai pelos dedos constantemente, pois sinto o fascínio da duvida da existência. A Mulher, um ser admirável para mim, as paixões, a maternidade, o desejo, e um motivo essencial também, em varias poesias.
SMC - Quais, escritores, são as suas referências literárias? Por que eles se tornaram uma referência para você?
Carlos Lobato - Complicado. São tantos. Fernando Pessoa, sem qualquer duvida e o meu mestre. Quando falo em Mestre, faço vênias ao gênio do homem e escritor universal. Não existe ninguém que eu conheça que chegue perto da genialidade deste homem. Tem um poder enorme em mim, que muitas vezes me transtorna quando o leio. Varias leituras só as consigo por fases, porque me influenciam sobremaneira. Alem do poeta inigualável, os contos, e essencialmente a sua explosão de escrita existencialista que transmite em tantas obras, transferem por vezes um pouco da sua em minha "loucura". "A Mensagem", "O Livro do Desassossego" e tantos outros, conseguem-me abstrair por momentos da realidade! Só Pessoa o consegue. Outros, uma miscelânea de autores como Jose Saramago, Maria Teresa Horta, Nuno Judice, Jose Rodrigues dos Santos, Luis Miguel Rocha, Antonio Ramos Rosa, Lidia Jorge, etc., etc.
SMC - Quais os principais hobbies do escritor Carlos Lobato?
Carlos Lobato - Os meus principais hobbies. Ler, essencialmente ler. Musica tão diferente como o estado de espírito, mas clássica em particular. O Fado tem um poder enorme em mim, a saudade sempre presente. A Arte em todas as suas vertentes (escrita, uma delas), como a pintura e teatro. Tenho o privilegio de viver em Londres, onde a cultura esta sempre em processo de grandes produções. Tenho um cartão que me da acesso a Royal Academy of Arts, onde passo muito tempo a degustar grandes mestres clássicos e contemporâneos da pintura. Sou membro do British Museum, onde tenho acesso a todas as grandes exposições temporárias com visitas por vezes fora de horas onde se torna fascinante a absorção de novas culturas, de outras clássicas desaparecidas, e não só. Também frequento o Barbican Centre, uma instituição incrível com grandes Orquestras, grandes maestros, e alguma exposições mais contemporâneas, mas de grande interesse. Posso considerar tudo isto em conjunto, como os meus hobbies.
SMC - Conte-nos, que temas você aborda em seu livro “Palavras Soltas”?
Carlos Lobato - "PALAVRAS SOLTAS" nasceu de uma brincadeira minha, quando decidi começar o meu blog de poesia, que alias tem o mesmo nome. Os temas, como já mencionei antes, estão relacionados com a criança, a mulher, a injustiça, o existencialismo. No fundo, este livro foi uma primeira experiência literária, onde não tive a preocupação de ordenar temas. Foi um pouco de tudo o que escrevo reunido e publicado em 70 poesias. Os próximos terão uma abordagem diferente.
SMC - Que dificuldades você encontra para a publicação de livros? O que você acredita que deve ser feito para amenizar estas dificuldades?
Carlos Lobato - Mais uma pergunta pertinente, e importante. Hoje em dia como em todos os diversos sectores comerciais, tudo mudou com a evolução das tecnologias e facilidade de auto divulgação. Se me perguntar se isso é bom, direi que sim, apesar de a quantidade ter tendência a ultrapassar a qualidade por consequência. Hoje em dia, os Blogs, Facebook, Twitter, etc, dão a possibilidade de expandir sem qualquer restrição, o que vai na cabeça de cada individuo. Tem o beneficio da oportunidade de divulgação e partilha dos incógnitos, no meio literário em particular. Surgem oportunidades, como me surgiu a mim com a minha Editora, apesar de não haver grande investimento da parte deles. São tantos os autores a publicar hoje em dia, que alguma coisa com certeza falhara especialmente em Portugal, onde a leitura não e uma característica forte do povo, apesar de ter vindo a crescer nos últimos anos. Neste momento houve um retorno negativo na compra de livros, a crise econômica vigente, esta a afundar o mercado literário, criam-se grandes lobbies comerciais literários que regularão o sector, impedindo a concorrência de num futuro próximo, alem da falência de varias distribuidoras, e a inerente falha entre editoras e livrarias, complicado. Estive ha cerca de um mês atrás de visita a Lisboa, numa das livrarias mais conhecidas da praça. Como indicativo, quando perguntei por alguns livros que queria comprar, foi-me dito que os distribuidores tinham fechado, sendo apenas possível adquirir por encomenda. Apesar de tudo ha varias editoras que se especializaram em "autores contemporâneos", editando os livros mas garantindo todos os custos inerentes da obra, ate a sua publicação, obrigando o autor a comprar quase metade da edição. Editam centenas e centenas de novos autores anualmente, sendo evidentemente um excelente negocio, mesmo em tempo de crise. Quanto depois a distribuição em pontos de venda, e extremamente limitada. Ora quem compra livros como eu, mesmo não conhecendo o autor, tem de sentir o livro, e explora-lo por momentos para o comprar, como já o fiz tantas vezes. Não estando a venda, não se vende.
SMC – Escritor Carlos, onde podemos comprar o seu livro?
Carlos Lobato - O meu livro será possível comprar no site Wook.com, assim como pela minha editora Chiado Editora. Em todas as capitais de distrito existe um ponto de venda, basta comunicar pelo próprio site. Lojas FNAC será outra opção. No Brasil esta disponível na cadeia de Livrarias Saraiva. Diretamente, basta enviarem um email para carloslobato50@gmail.com e enviarei com todo o prazer a quem o queira adquirir.
SMC - Quais seus próximos projetos literários? Pretende publicar novo livro?
Carlos Lobato - Não tenho muita pressa, sinceramente. Mas sim, em termos de poesia tenho já material para outro livro, e estou neste momento em fase decisão. Alem de poesia, estou a escrever um romance que esta em fase de investigação, sendo que ainda demorara algum tempo, para ficar concluído. Ideias e projectos não faltam!
SMC - Hoje você mora em Londres, que diferenças você citaria entre o mercado literário em Portugal e o mercado literário em Londres?
Carlos Lobato - Se lhe disser que Londres tem mais habitantes que Portugal inteiro, talvez dê para imaginar uma das diferenças. Mas não e só a questão de número de habitantes, apesar de importante. Tem a cultura por base. Londres (o Reino Unido) é um núcleo enorme de potencialidades que tem a facilidade do poder de compra. A diferença esta na forma de estar dos indivíduos, na cultura pessoal e no relevo que a industria da a publicidade e apoio aos autores. Basta ver a imprensa escrita, basta andar por Londres no Underground, nos blackcabs, e ver a relevância que se da a literatura, com toda a publicidade existente. Como disse, estive em Lisboa um mês atrás, onde andei de Metro e foi esta diferença de forma de estar, que e relevante. Se viajar numa carruagem em Londres, lhe garanto que vê muita gente com um livro aberto, no Metro em Lisboa, vi alem de mim, uma outra pessoa. Um exemplo simplório mas sintomático.
SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação, muito bom conhecer melhor o Escritor Carlos Lobato , que mensagem você deixa para nossos leitores?
Carlos Lobato - Acima de tudo LEIAM. Leiam muito, porque a leitura é uma forma imensa de enriquecimento interior. Se escreverem, não se imiscuam em divulgar. Partilhem, usando os meios disponíveis. Não será preciso ser gênio, nem será necessário vender best sellers para se ser escritor. Escrever, é um prazer interno, muito próprio que não necessita de existir apenas com a intenção da venda. Quem o faz não será escritor, mas alguém que escreve comercialmente. Escrever, escrevemos todos, escrevam! O meu obrigado ao projecto DIVULGA ESCRITOR, por esta oportunidade de partilha.
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