O ciclo cobiça, obtenção, perda e frustração - por Maurício Duarte

O ciclo cobiça, obtenção, perda e frustração

 

O que é o ciclo cobiça, obtenção, perda e frustração?  É uma bola de neve que tendemos a repetir ao longo da vida e que só aumenta se não tomarmos consciência da sua existência. É uma cegueira que nos torna vítimas de nossos desejos sem que possamos perceber o quanto estamos aprisionados sem perspectivas de mudar realmente nossas vidas.

Primeiro, cobiça: Acreditamos cegamente que se sairmos de casa e morarmos em outro lugar, com a nossa namorada, seremos felizes.  Acreditamos que se virmos o último filme do Harrison Ford, seremos muito felizes.  Acreditamos que se nos deliciarmos com aquele sorvete do fast  food, estaremos contentes e felizes.  Nossa meta e objetivo nos deixam cegos e nos levam a cobiçar inconscientemente.  Tornamo-nos apegados às coisas.

Segundo, obtenção: Todas as alegrias desaparecem depois que obtemos o que queríamos, percebemos que conseguir aquele apartamento, aquele filme ou aquele sorvete não nos preenche totalmente. Nada poderia nos preencher totalmente, na verdade.  Sentimos um vazio e tendemos a perder o que conseguimos, de modo a que possamos nos frustrar e partir para a nova cobiça e obtenção, repetidamente.

Terceiro, a perda: Não é o apartamento, o filme ou o sorvete que causam o sofrimento.  Podemos aproveitá-los enquanto estão lá.  É para isto que eles estão lá, para que os aproveitemos enquanto estão lá.  Mas preencher nosso vazio interior com essas coisas nunca vai ser possível.  E o desejo de preencher esse vazio é o que causa a frustração.

Quarto, a frustração: A partir de nossa ignorância e confusão, criamos o sofrimento.  Acreditar que a verdadeira felicidade vem através da aquisição de coisas, vem da obtenção de algum objetivo é o caminho para essa frustração.  Obter um apartamento, ver um filme ou tomar um sorvete não é nossa felicidade como um todo, nem nunca vai ser.  Quando tomamos consciência disto, nossa convicção cega de cobiça nos deixa e quebramos o ciclo repetitivo.

Não há nada de errado em ter um apartamento, ver um filme ou tomar um sorvete, mas ter o apego nessas coisas a ponto de acreditar que se não as tivermos, seremos infelizes, é o caminho para a frustração e a amargura, como já disse.  E se descobrirmos que é ótimo morar com a namorada no novo apartamento, mas seria muito melhor morar numa casa espaçosa com ela?  E depois descobrirmos que seria maravilhoso ter um carro na garagem dessa casa? E se descobrirmos que o novo filme do Harrison Ford é fantástico, mas o que queríamos mesmo é de ir em toda sessão de estreia dos seus filmes?  E se descobrirmos que ir nas sessões de estreia é um must, mas o que queríamos mesmo é ter a coleção de todos os filmes dele em DVD ou Blue-ray?  E se descobrirmos que o sorvete é muito bom, mas queríamos mesmo é tomar um sundae caramelizado?  E se descobrirmos depois que o queríamos mesmo é tomar um super milk shake? E assim por diante.  Nunca para. Nunca para.

Os desejos são fenômenos impermanentes, como dizem os budistas.  Ficar feliz com o que existe, ficar feliz e calmo com o que existe não é comodismo.  É a harmonia interior de aproveitar o momento presente.  Sem o qual, nada nos satisfará, nunca.  Paz e luz.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

 

Referências:

O Dharma de Guerra nas Estrelas . Matthew Bortolin. Editora Fissus . Rio de Janeiro . RJ , 2005.

 

 

 

 

 

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