A C H I S P A (prosa poética)
Chega rápido como uma fagulha,
propaga uma trilha, um halo luminoso,
um sopro inabalável,
a essência do perfume a ser desenvolvido,
o deslumbramento de uma visão celestial.
A chispa de vida chegou para ficar.
Esta chispa não pode ser dimensionada, não tem volume nem textura, apenas brilho e com isto é suficiente para existir, para permanecer, para ser o prodígio da vida, com uma forma externa materializada. O primeiro grito, todo meloso, melado, besuntado, escorregadio, com a cara enrugada, os olhos saltados, fechados, lacrimejando, e com a garganta gritando os primeiros sons, a sua exaltação a Deus, por uma existência que começa, por um tempo que é infinito enquanto permanecer espírito, resfolegando na turbulência dos dias de sofreguidão, de alegrias, e de expectativas.
A vida carrega em si uma força insuspeita,
caminha por veredas traçadas pelo destino,
absorve impactos e truculências,
lapida a face bruta da pedra existencial,
refestela-se na languidez das consequências,
ciente de suas ações, de suas opções.
“No meio do caminho encontrei uma pedra”, não a de Drummond, porque cada um encontra sua pedra, com seu feitio especial, e suas arestas personalizadas. Alguns que passeiam pela margem do rio podem se deparar com seixos roliços, brilhosos e macios. Outros, rocha bruta sem lapidação, apenas mostrando a erosão dos ventos incessantes.
Encontre sua pedra, seu seixo, guarde-o com todo carinho no recôndito de seu coração, dedique-lhe amor e paciência, converse com ele, como se fosse seu grande amigo, e com ele aprenda a viver e conviver, aceitando-o como um passo em sua evolução diária, um avanço em direção à correição de vida e eternidade. Para ser bom é indispensável que se conheça o lado ruim, pois que, como diziam os antigos: – “Coma também do lado podre da maçã”. Para cada sim, existe o não, para o escuro, o claro, para o bom, o ruim, para o belo, o feio, para o reto, o torto, pra o Yong, o Ying.
Saia da floresta desgalhada e procure o explosivo verde da vegetação exuberante, alimente-se de sua seiva, e adquira o vigor e a força da natureza, para dela fazer parte integrante, altaneira como a mais alta “Sumaúma” amazônica, com sua copa, com seu tronco opulento, fincado profundamente no solo vivificador da pureza da terra radiosa.
Algumas vezes no final do caminho encontramos uma pedra, à qual não sabemos dimensionar, a não ser quando nos dedicamos a perscrutá-la, estuda-la com dedicação, com muita atenção, prestando atenção aos menores detalhes, às suas mínimas reentrâncias. O perigoso é quando queremos transformar um pequeno calhau em uma montanha, a qual podemos escalar vagarosamente sem tropeços, às vezes com arrogância. Nos detalhes encontramos nossa força, nosso vigor, tudo revestido de perseverança e sabedoria, e, principalmente, com humildade.
Procure no dia os raios de sol,
refestele-se com o regalo da natureza,
reflita nos olhos a luz da integridade,
na garganta o canto dos ventos uivantes,
nos gestos a doação ao bem comum,
no coração a pureza da caridade.