A Casa Grande do Senhor do Engenho
Por Silva Neto
Extraído do seu livro “A Saga de Aripibu” 1ª Edição 2012 – Editora Gregory
Esta é a foto da Casa Grande, imponente pela sua arquitetura da época do Brasil Colônia. Sua história, encravada entre musgos de suas paredes húmidas e desfiguradas pelo tempo, guarda as lembranças de um País em formação. O caráter ostensivo dos Senhores de Engenhos em contrapartida com a subserviência dos escravos moldaram o Brasil de hoje, dividido entre o poder dos seus governantes e a classe trabalhadora.
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Localizada em um plano alto, a Casa Grande do Senhor de Engenho, de bela arquitetura colonial, era o retrato da imponência em contraste com as miseráveis acomodações dos escravos. Seus cômodos, bastante amplos para conter todo o mobiliário composto de camas, guardas roupas, penteadeiras, mesas, cadeiras, sofás de couro, cristaleira, bufês, porta chapéus, quadros e porta retratos, todos trabalhados em madeira de lei, ao gosto e requinte da época. As portas, janelas, piso e teto de madeira polida e envernizada refletiam como espelhos. O acesso à Casa Grande era através de um largo caminho gramado ladeado de palmeiras imperiais.
No jardim havia canteiros de rosas, dálias, jasmins, lírios, violetas, separados por papoulas vermelhas. Dois pés de flamboyants frondosos e floridos na parte lateral avermelhavam o chão através da constante queda de suas pétalas escarlates. Na parte superior frontal, ramagens de trepadeiras de flores roxas e amarelas derramadas por cima do telhado ornamentavam aquela arquitetura palaciana dando o aspecto de senhoril bom gosto, comum à época. No quintal, o pomar, com várias espécies de fruteiras tropicais; a abundante criação de aves exóticas como pavão, perus de raça, guinés, gansos e seriemas, além da criação de galos de briga da raça indiana de Calcutá, o xodó do Capitão, título comprado por aquele temível Senhor de Engenho. O grande terraço com pilares rodeava toda a casa, de onde se podia observar, da parte frontal, o grande afluente do rio Sirinhaém, o canavial viçoso entre o vale e, ao longe, os morros cobertos pela Mata Atlântica ainda virgem.
O Senhor de Engenho, o Capitão Tinoco, costumava sentar-se ao terraço, aos finais de tarde, para assistir a chegada do último carro de boi deslizando por aquela estrada sinuosa, provocando ruído típico pelo atrito das rodas no eixo. . No decorrer do dia e da noite as aves emitiam cânticos dos mais diversificados, completando o requinte palaciano de pompa e fidalguia ostentada por aquele Senhor de Engenho...