A C R I A Ç Ã O
Um pingo frenético no sistema cavernoso em busca de fecundar a gema mater.
Num momento o sopro deu-se; o milagre da vida aconteceu. Deus...
Uma estrutura em formação. O vento sopra e o tempo cavalga. A fórmula continua imperfeita; sempre em ebulição em busca de completar-se.
Atribulações, tropeços, minúsculos encaixes são ajustados.
Uma mandíbula que se escancara para acolher até mesmo os grãos de areia que vagam alhures, serve para saciar a ganancia, para erigir sonhos mirabolantes de encher os cofres de ilusões passageiras; uma grande utopia. Um riso falso, uma saciedade clandestina.
O tempo rola, o corpo envelhece, o trombo nada no rio escarlate, e vem descansar às margens do grande músculo. Um susto, uma lição, um aprendizado; outra peça do quebra cabeça encaixada. A árvore cresce e se aperfeiçoa. Começa a oferecer sombra e frutos. O vento continua a soprar pequenas partículas para a formação do mosaico.
Coloridos vertiginosos pintam o tempo de euforia, pascem os milagres do inconcebível mistério, vestindo os olhos de admiração pelo incompreendido. A cordilheira deve ser ultrapassada para a deslumbrada verdade que escorre à frente, em forma de matéria líquida transparente, indecifrável. O aperfeiçoamento aproxima-se da perfeição.
A correnteza está perto da foz. Depois de percorrer o infinito, abraçando, colhendo, engolindo raízes e seivas, serpentes e voo, grãos e montanhas, está perto de ser acolhido pelo grande senhor mar, origem de tudo.
A obra está acabada, perfeita, brilhante e sábia, senhora da verdade, amante do conhecimento puro.
A obra está pronta. Deus a reclama. Ir para sua sombra é o último verdadeiro movimento involuntário.
O mundo é imperfeito para alimentá-la e geri-la.
Estamos felizes pela completude, e, neste momento, deixamos a matéria para soçobrar no espírito insondável. O ciclo completou-se. Nascimento, vida, morte. Onde está o sabor da criação? Onde permeia a sabedoria do criador? Qual a finalidade do todo?
Quando a perfeição acontece, partimos em viagem não solicitada... Por que a natureza não cavila da finitude?
Outro pingo vai cair nos vales cavernosos da criação.
Anchieta Antunes
26/12/17.