A experiência mística é inalcançável?
O contexto do final do século XIX e começo do XX era realmente díspare do que temos hoje. Naqueles tempos o anarquismo (responsável pela consolidação dos sindicatos no Brasil) e o socialismo (responsável por revoluções muitas – inclusive a revolução russa de 1917 – ao longo do tempo) surgiam com toda força no cenário político. A tônica era a materialidade, em muitos aspectos, na humanidade.
Glossolalia, oração centrante, lectio divina, yoga, meditação cristã, meditação transcendental, ayurveda, acupuntura e muitas outras práticas são comuns hoje em dia. Mas muitas dessas atividades, senão todas, eram simplesmente ignoradas ou rejeitadas pelos fiéis das igrejas institucionalizadas e, sem dúvida, pelos líderes e clérigos dessas mesmas igrejas.
Após duas guerras mundiais, vanguardas artísticas, o projeto modernista, os beatniks, os hippies, o rock dos anos 1960 e tudo o que trouxeram essas reformulações e ressignificações para o homem contemporâneo, o pêndulo mudou de lado. Isso não quer dizer que o oriente esteja invadindo o ocidente, nem nada parecido. Simplesmente é um ciclo que se fecha e outro que se inicia.
A questão é que o que parece ser um conflito num nível de ampliação, é na verdade, harmonia num nível mais elevado. Oriente e ocidente se complementam e o novo homem terá que aglutinar, unir um pouco dos dois para continuar a viver nesse planeta com consciência. Consciência essa que pode ser potencializada pelas práticas de espiritualidade como a meditação, por exemplo. A elevação espiritual é um direito nosso, de cada ser humano que percebe que todos fazem parte de Um Ser único e indivisível. Podemos chamá-lo de Deus, Universo, Cosmos, Todo, do que preferirmos.
Nesse sentido a experiência mística é oferecida a todos nós a cada dia. E é por isso que ateus e agnósticos tem que reafirmar suas concepções de ordem espiritual ou não-espiritual todos os dias, mesmo quando não há proselitismo por parte de igrejas e/ou fiéis por perto. Isso acontece porque Deus nos ama incondicionalmente. E nunca desiste de nós. Não quero com isso desvalorizar ou menosprezar os pensamentos de ateus ou agnósticos, de forma nenhuma. Inclusive a agnosia, via espiritual seguida por São Dionísio, vai ao encontro do questionamento ao que seria Deus para alcançar a experiência mística. Afirmando que Deus é luz, que Deus é trevas, que Deus é tudo e nada ao mesmo tempo, São Dionísio é iluminado pela própria agnosia, pela própria compreensão da agnosia.
Assim é a experiência mística, uma percepção, uma atenção ao som tanto quanto aos intervalos entre os sons. Para ouvir a melodia da vida é preciso observar os intervalos entre as pessoas. As coisas que não são ditas e as coisas que estão implícitas.
O ocidente tem sido uma porta para a ampliação e o desenvol-vimento científicos e tecnológicos sem igual. O oriente, por sua vez, construiu métodos espirituais de se olhar para dentro da alma humana sem paralelo. Hoje essas duas visões de mundo estão mais unidas do que nunca. Assim é necessário que se faça o homem contemporâneo: inteiro, completo, pleno.
Estar atento aos movimentos e contra-movimentos da vida é aprender a alcançar o divino em nós mesmos. É estar em consonância com a sabedoria milenar do ontem, do hoje e do sempre. Paz e luz.