A Importância de Pensar - por Lígia Beltrão

A Importância de Pensar - por Lígia Beltrão

A Importância de Pensar

 

         Tenho o hábito de pensar. Ouvir e pensar sobre. Medir milimetricamente o que ouço e guardar comigo, juntar... O que, talvez não seja muito bom para meu coração, que com o tempo, fica magoado e desconfiando do mundo. Tenho muito medo, e esse medo não quero perder, de ser injusta. Nos últimos tempos, vendo como algumas pessoas são volúveis e magoam as outras, até inconscientemente, tenho me dado o "direito" de pensar ainda mais. Chego, quase sempre, a mesma conclusão. Os que não aprenderam ainda, a amar, são os maiores sofredores. Têm medo de tudo e desconfiam de cada palavra que ouvem. Isso é insegurança. Poucos admitem. Muitos procuram culpados para suas crises existenciais. Que pena! Demoram a conhecerem-se e jogam fora jardins inteiros, com medo do trabalho de manterem-nos floridos.

 

         Ás vezes me vejo num labirinto imenso, no qual esqueceram de fazer a saída. Dor insuportável pra quem quer a felicidade geral. Divago, buscando nos meus eus fragmentados, o verdadeiro sentido das coisas. Inquietações inerentes a minha vontade, apertam meu peito, como a cascavilhar-me por dentro, buscando algo, talvez já perdido no tempo. Escrevo. Talvez esteja tentando revelar-me por aí. Não importa como quero mostrar-me. Todos os meus lados são meus mesmo. Recolho-me calmamente, dentro de mim, afastando os cacos dilacerantes das minhas dores para o lado, com medo de machucar-me e juntar mais uma cicatriz, e não conseguir curar a tantas outras já existentes.

 

     Faço-me jardim a cada amanhecer, com o cuidado de regá-lo na medida certa. Não quero encharcá-lo. Também, não posso esquecer-me dele e deixá-lo secar demais. Pra tudo, há uma medida certa. No tempo e na vida. Há momentos na destinação da pessoa humana, em que, sem querer, vivemos sentimentos únicos, que não sabemos explicar porque exatamente ramificam-se dentro de nós, crescendo e tomando rumos desconhecidos. Deve ser a planta do acaso. Invasora e despudorada vai invadindo tudo, às vezes, até sufocando, como se dona e senhora fosse, dos nossos eus espalhados.

 

      Sou o tempo invisível de todos os tempos, que me chama agora, para relembrar o que já fui um dia, não muito distante. Na masmorra do meu nome, perco-me, feito ser quase inexistente, perdido dentro de algum eu, que já foi maior. Já não quero ficar assim, perdida dentro de mim mesma, ouvindo os meus próprios ais. Essa pluralidade dos meus eus enriquece-me. Quantas vidas não haverá em cada um deles!

 

       Vivo em busca constante de alguma coisa, que não encontrarei por aí, em qualquer lugar, de qualquer jeito. Quem sabe, já não guardei numa daquelas gavetas, que fechei com a chave da saudade, nas quais esparramei meus tesouros mais íntimos. Inexorável passar das horas, fazendo-me esquecimento. Sou, por vezes, conflitos aflitos, nas contradições de mim mesma. Sou horizontes perdidos no tempo, que não encontrarei mais. A vida é assim, caminhos curvos, apedregulhados, ladeados de espinhos em alguns trechos. Noutros, rios caudalosos cantam em nossos ouvidos, as canções dos deuses, fazendo-nos descansar das jornadas cansadas dos dias duros. Vale pensar na grandeza do existir.

 

Lígia Beltrão

 

 

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