A Incisiva Conquista
Ela tinha planos e estava convicta deles. Era visivelmente admirada pela vizinhança. Tinha consciência disto. Não se importava com o rapaz da frente que ficava a observá-la da janela do quarto dele. Fingia não vê-lo. Fechava as cortinas e pronto. Havia algo mais importante e sério com que se preocupar e sua cabeça neste momento só tinha espaço para comportar a situação ora emergente e que exigia um auto controle e uma irremediável decisão.
Na sua vida nada foi fácil e todas as suas conquistas exigiram muita determinação e persistência. Não tinha mágoas nem revoltas guardadas.
Nada era fácil para ninguém principalmente para a classe feminina cuja classificação preferia não definir. Essa coisa de letras e cotas lhe cheirava mal.
As paixões de sua vida sempre foram fortes, mas alguma coisa a impedia de se entregar intensamente. Havia um medo em seu coração e sem que e nem pra que terminava tudo como se fosse um pedido de demissão. Nenhum homem lhe prometeu muita coisa e não lembra tê-los visto chorar por sua causa. Ela sim, já chorou muitas vezes. Mas se manteve quieta não era seu feitio implorar nada, nem mesmo amor. Só que dessa vez seu coração estava acelerado. Suas emoções à flor da pele. Ainda mais agora que o peso de trinta e cinco anos parecia assombrá-la.
A compra do apartamento há cinco anos exigira uma dose grande de renúncias e só agora tudo começara a se ajustar melhor. Estava feliz. Uma decoração modesta mas aconchegante. Mas e agora como ia ser?
Calma! Não podia ficar feito uma barata tonta! Já que não havia mais dúvida. Tudo estava diferente. Seu olhar, seu sorriso, seus olhos e suas mãos suadas e trêmulas. Estava finalmente grávida e precisava urgente comemorar. O pai? Ah! Era seu projeto de vida. Sua estória. Sua metade. Seu desejo. Enfim sua total e real conquista. Agora sim. Era hora de ser feliz.
Maria Dilmar
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