A INSENSATEZ DA ETERNIDADE
A eternidade brinda novas oportunidades para erros diferentes. Repetir é enfadonho.
Quem foi que vaticinou que somos eternos? Foi
Deus? Foi-nos perguntado se queríamos a eternidade? Ela está intimamente ligada à vida após a vida?
Para mim a eternidade da alma é uma tremenda sacanagem. Inda mais quando admitimos que voltamos para este planeta ou outro qualquer, para cometer os mesmos erros, as mesmas aberrações, as mesmas inconveniências conosco e com os demais. Tornamo-nos repetitivos e tediosos.
O aventureiro tem surrupiado o seu espírito, considerando que “aventuras” implicam riscos. Se a morte abocanhar a vida, teremos outra em futuro próximo ou longínquo. A fruta perde o sabor da descoberta quando nos empanturramos com ela. O tempo rola nas muralhas do infinito perdendo significado e efeito, consistência e conteúdo.
Quando não temos noção de finitude os dias correm sem sal, as veias sem sangue, o raciocínio carece de vigor. O produto de nosso cérebro assemelha-se a folhas de outono que caem secas deixando a arvore como um esqueleto apontando para um céu plúmbeo. A infinitude aporta o desconhecimento de perigo. Ficamos desleixados, impróprios para o dia.
A essência vivencial carece de ânimo, sob pena de sucumbir frente ao primeiro obstáculo. O vigor mental tem suas raízes fincadas no “ânimus”, na coragem de ser, de viver, de conseguir. Somos os cavaleiros da batalha perdida a cada encarnação e sempre estamos dispostos a entrar na armadura medieval, baixar o elmo e brandir a espada dos séculos vindouros. Parece-me que tudo perde a graça quando esbarramos no muro invisível da não finitude.
A experiência que nos aporta os anos vivenciados em comunhão com os demais, desce pelo ralo quando nos vamos. Não existe um banco de memórias, de experiências, de aprendizado. Sequer podemos transferir para nossos descendentes. Nem experiência, nem inteligência. Tudo fica perdido, não sei onde, quando damos adeus, quando entramos no avião que nos levará para lugares que nunca desejamos conhecer. É uma merda, mas é assim mesmo, e nada podemos modificar, guardar, acumular. É como se embarcássemos no Expresso do Oriente, em direção ao Ocidente. Nada faz sentido, nada é inteligível. Não podemos absorver o que não entendemos. Temos à nossa frente uma cortina de fumaça nos impedindo de enxergar adiante. Temos uma vida dentro de um cofre e a porta de saída nos leva para o limbo. Que bela experiência, que maravilhosa passagem por estas bandas. Resta-nos desfrutar o prazer carnal, desfrutar o poder material, dormir o sono que repõe energia, comer o alimento que repõe energia, beber a água que repõe energia. Dispomos de tudo que repõe energia para sofregamente ingerirmos a vida que nos foi emprestada ou alugada ou alocada.
Regalam-nos pequenas alegrias, pequenas luzes, pequenos momentos de felicidade, de prazer, de lazer, de repouso. Qual o significado da vida? Quem souber, por favor, me avise.
Anchieta Antunes
28/11/11
Página do Colunista Anchieta Antunes
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