A Insustentável Leveza do Ser – Por SILVA NETO
www.silvanetoesilva.com.br
O título é uma referência ao Livro checo “Nesnesitelná Iehkost bytí” de Milan Kundera, publicado em 1984, traduzido em português como A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER.
O famoso romance, na época, foi adaptado para o cinema pelo diretor Philip Kaufman sob o título The Unbearable Lightness of Being, EUA 1988, ganhador do Oscar e outros prêmios. Houve, por ocasião do lançamento do filme, uma febre em assistência em função da trama e do enredo, muito bem dirigidos pelo grande cineasta Kaufman, sendo fiel ao tema do Livro.
A história acontece em Praga e em Zurique, em 1968, e atravessa algumas décadas. Narra os amores e os desamores de quatro personagens: Tomás, Teresa, Sabina e Franz. É permeada pela invasão russa à Tchecoslováquia e pelo clima de tensão política que pairava em Praga naqueles dias.
A presença de conteúdos essencialmente filosóficos no texto de Kundera faz-se notar de modo explícito, por força do seu estilo narrativo. Sua constante "saída" do texto e os capítulos em forma de comentário funcionam à maneira de notas de rodapé, esclarecendo o leitor sobre o terreno filosófico e psicológico em que a história se desenrola.
A referência a autores da tradição filosófica como Nietzsche e Parmênides situa o enredo do romance dentro de uma perspectiva existencial, submete as situações a uma análise filosófica, a uma reflexão especulativa.
Kundera desloca a dualidade do peso e da leveza para uma perspectiva existencial, mesclando-a ao problema da liberdade humana em uma perspectiva próxima à problemática do existencialismo.
Para Kundera, a leveza decorre de uma vida levada sob o teto da liberdade descompromissada. A leveza segue-se de um não engajamento, um não comprometimento com situações quaisquer, aproximando-se, nesse sentido, às ideias de Jean Paul Sartre sobre a condição humana.
Nesse contexto situo meu próximo livro LIBERDADE CERCEADA, como leveza insustentável das ações humanas. O homem age acorrentado pelos preconceitos adquiridos no processo educacional familiar, religioso e social. A sociedade é o reflexo dessa má educação. O homem é escravo de conceitos adquiridos desde a infância, dos quais não se liberta quando atinge a idade adulta. A unicidade de cada indivíduo torna-se comprometida enquanto o homem não se desenlaça da tutela dos pais e dos conceitos adquiridos. Não da tutela econômica, mas, das ideias adquiridas, do apego às tradições retrógadas que prendem o homem tornando-o escravo dos hábitos por herança. Não existe hereditariedade em termo de personalidade. Existem elementos adquiridos que forma uma personalidade mais ou menos destorcida em função da educação recebida através dos pais, da escolaridade, da sociedade, das religiões e da conduta política do Estado. Lembro-me de um texto de Jean Paulo Sartre citado por um professor, quando Sartre ensinava no Liceu de Le Havre, dirigindo-se aos alunos dizia: “O homem, ao atingir a maior idade, deve vomitar tudo que aprendeu através dos pais, das religiões, da sociedade, e, em seguida, engolir do vômito o essencial que sirva para se fazer dele um indivíduo”.
Outras frases interessantes de Jean Paul Sartre trazem o mesmo sentido: “Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim. ” Sartre “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.” Sartre e só existe na medida em que se realiza.” Sartre |
“A família é como a varíola: a gente tem quando criança e fica marcado para o resto da vida.” Sartre
Consulta Bibliográfica:
Milan Kundera em “A Insustentável Leveza do Ser”
Jean Paul Sartre em “A Idade da Razão”
(Aconselho ler as referidas Obras)