A Miragem da Vida ou A Maçadora Caminhada
A vida começa no dia em que,
Tomando consciência do mundo
Tomamos consciência da nossa existência
E, perdidos no centro do deserto,
Virgem, sem trilhos nem caminhos,
Rodeados por apenas uma imensidão de dourada areia
Perdemos o equilíbrio, a inata orientação.
Para que lado me devo dirigir?
Surge-nos então, ao longe, a visão de um oásis,
O destino certo para a felicidade eterna.
De um pulo fazemo-nos ao caminho,
A princípio com passo decidido
Mas o cansaço da caminhada faz-nos
Abrandar o ritmo, faz-nos duvidar se o oásis é real.
Ou será uma miragem?
Rodopiamos à procura de um outro trilho,
De repente surgem infinitos oásis,
Piscamos os olhos e não resta nenhum!
Queda desamparada, a cabeça gira
Os pensamentos surgem em turbilhão.
O que fazer?
Buscamos no fundo do nosso ser
Uma réstia de força, de convicção,
Procuramos a alegria do tempo da inconsciência.
De novo em pé prosseguimos a marcha,
A distância ao éden terrestre diminui...
Será que lá chegaremos?
A agonia do último passo martiriza-nos,
por fim chegamos, mas a vida já não nos diz nada.
Afinal quando é que tudo acaba?
Miguel Santos (1999)