Você já viu um leão hodierno? Designado para representar o Imposto de Renda? A fera era curiosa; esgueirou-se de seu habitat natural e inaugurou suas pegadas no asfalto poluído da metrópole. Ignorou o recuo dos transeuntes. Faminto, fuçou o lixo espalhado na rua e devorou restos de alimentos. Seguiu imponente, esquecido das árvores, dos rios, da caça, de uma leoa para se enroscar.
Avistou um quintal. Entrou. Farejou uma planta ressequida por falta de água. Enxergou uma porta. Ouviu o grito seguido de histeria. Surgiu uma corda. Foi laçado.
Recebeu nomeações: imposto, cobrança, tributo, subsídio, taxa. Imposição? Como se não bastasse ser o rei da selva, tornou-se rei das cifras. Passou a mamar nas tetas caídas do contribuinte. Recebeu mecanismo de robô – calcula e fiscaliza bolsos ocos e mãos atadas. Rosna para sonegadores. Morde. Apodera-se?
E o contribuinte fica à espreita, temendo a mordida felina nos fundilhos.
Crônica do livro “Um pindaíba nunca está sozinho”
Publicado em 08/03/2014