A PRIMEIRA VEZ DE UM LEITOR
A escola não a formou como leitora, ela só tomou gosto pela leitura fora de seus muros. A outra instituição que seria responsável por cativar-lhe o gosto pela leitura seria a família, mas no seu caso em particular esse incentivo não pode realizar-se. Um dos motivos reais seria o de ser filha de pais analfabetos. É quase inimaginável uma plantação de livros numa casa de agricultores. O seu gosto pela leitura deu-se em razão de sua profissão. Como sempre trabalhou em casa de pessoa em que o nível cultural era mais elevado do que o seu. Assim como um vírus atinge alguém, ela foi acometida pela doença: a leitura. Os primeiros sintomas apareceram quando começou a limpar livros empoeirados, jogados em caixas, amontoados como alimentos num celeiro para as traças.
Em outra ocasião não suportava velos amarrotados nas estantes, cuja finalidade era convencer o visitante que aquela residência era de leitores onívoros. Essa vaidade humana o enfurecia pois era ela a única pessoa que acariciava aquelas páginas. Eram seus olhos e as suas lagrimas que o animavam.
Confesso-lhe envergonhada como foi a sua primeira vez...
Num fatídico dia ao abrir um desses livros; foi fisgada, enfeitiçada e não pode mais se livrar daquelas páginas onde se perdia ou deixava se perde todas a as tardes.
Os locais para a leitura foram os mais inusitados possível.
Apaixonada, cuidadosamente colocava um “Machado de Assis’ ’embaixo da roupa e se dirigia até o banheiro.
Eh! Ao banheiro!
Num cômodo espremido de um banheiro, iniciou-se na leitura