A Vida e a Verdade
O trem segue soltando fumaça pelas ventas.
Aqui e acolá apita para avisar da sua passagem.
Estava vivo! Saudava-o a aragem
Segue em frente – dizia o tempo – Será que aguentas?
Vagão cheio. Gente se esbarrando.
Palavras soltas. Risos disfarçados.
Esperança no ar. Desejos exaltados
Parecia que todos estavam se amando.
Caminho ladeado de flores
Verde subindo as encostas das colinas
Borboletas voando, ainda meninas,
Mar bramindo, se contorcendo em dores.
Vagão cheio. Gente se olhando.
Sonhos... Cadê os sonhos? Morrendo.
Esperança se contorcendo
Homens perdidos, agora vagando.
Vagão sem prumo
Cansado. Silencioso
Olhar impiedoso
À vida sem rumo.
Trem despencando. Olhos baços
Dores insuportáveis
Calados, agora, os sonhos... Já foram incontáveis...
Destino ferido e morto em cansaços
A vida acabou-se em meio aos destroços.
Trilhos enferrujados. Trem descarrilhado
Alegrias, dores, sonhos, estilhaços, ser acabado,
Caminho partido, resumo da vida, monte de ossos!
E mais nada.
Lígia Beltrão