Ele entrou na loja de móveis com ar de quem queria gastar – cobiçou a cama de casal e o sofá, apalpou o bolso como se estivesse mimando a fartura. Perguntou o valor de ambos e concluiu que poderia comprar somente a cama.
Pensou que o ideal seria pagar à vista, sair da loja com a mercadoria e sem nenhuma dívida. O ideal, mas não o desejável – ele queria os dois móveis. A cama era perfeita, um deleite para o corpo e a alma e o sofá impermeável, antimofo, fácil acolher as travessuras familiares.
O vendedor treinado para resgatar endividados perpétuos, sugeriu que ele comprasse os dois móveis dando como entrada o valor que estava no bolso – o restante da dívida poderia ser parcelado.
- Prefiro pagar o móvel à vista.
- Mas você gostou da cama e do sofá.
- Principalmente a cama...
- O sofá é a mãe da amizade, ouve segredos e acolhe costas cansadas.
- Não vim comprar a prazo.
- Oportunidades não podem ser desperdiçadas.
- A minha esposa não vai aprovar o parcelamento da dívida.
- A sua esposa vai amar os móveis.
- Ela não suporta compras a prazo.
- Ela não é você.
- É mesmo uma bela cama...
- E um belíssimo sofá – e arrebatou – “prestações sem juros”.
A frase surtiu efeito. Ele comprou, esvaziou o bolso e parcelou a dívida.
Disse para a mulher que os móveis estavam em promoção e que levou os dois pelo preço de um.
A mulher o abraçou dizendo que ele era um homem sortudo.
Publicado em 01/03/2014