Adiamento
Doí-me todas as lembranças
Que escorreram pelos meus dedos trêmulos
E ficaram perdidas no tempo.
Mais ainda me doem os sonhos
Que teimam em me molestarem
E que, por medo, deixei-os irem. Sem rumo.
Quando um dia entender
Que tudo quanto eu perdia
Eram pedaços meus arrancados
Deitarei olhando estrelas
E pedirei a Deus clemência
E perdão para os meus pecados
O céu se enfeitará de nuvens negras
E a eterna noite fechará seu pano preto
Desfolharei em vão palavras inteiras
E não serão os sonhos, agora já no fim,
Mas a própria vida, que me adiando,
Deixei que escorresse de mim.
Lígia Beltrão