Adiamento - por Lígia Beltrão

Adiamento - por Lígia Beltrão

Adiamento

 

Doí-me todas as lembranças

Que escorreram pelos meus dedos trêmulos

E ficaram perdidas no tempo.

 

Mais ainda me doem os sonhos

Que teimam em me molestarem

E que, por medo, deixei-os irem. Sem rumo.

 

Quando um dia entender

Que tudo quanto eu perdia

Eram pedaços meus arrancados

 

Deitarei olhando estrelas

E pedirei a Deus clemência

E perdão para os meus pecados

 

O céu se enfeitará de nuvens negras

E a eterna noite fechará seu pano preto

Desfolharei em vão palavras inteiras

 

E não serão os sonhos, agora já no fim,

Mas a própria vida, que me adiando,

Deixei que escorresse de mim.

 

Lígia Beltrão

 

 

 

 

 

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