Alerta Número Um – Por Silva Neto
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Ah! Quantas dificuldades sentir para escrever enquanto estava doente! Mesmo em estado de recuperação nada me inclinava à escrita, `a leitura, à concentração. Sentia-me incapaz de raciocinar, de formular ideias, de descrever mesmo sobre minha situação dantesca de meu estado físico deprimente. Acho que meu humor literário não está acostumado a versar sobre dramas dessa natureza. No meu estado normal sou otimista; humorado, embora de feição opaca, de falsa seriedade, meu espírito ferve de humor. Mas, sou real e humano. Quando a doença chega, entro num marasmo sem igual, fecho-me em caracol, dou um “time” a mim mesmo. Tanto isso é verdade que deleguei toda minha comunicação à minha esposa. Transformei-a em porta-voz de meus queixumes. Daí as notícias ao meu respeito expandirem-se, tomarem rumos espetaculosos (mulher adora conversar até pelos cotovelos). E “toma” notícias, ora de morte, ora de vida, e “toma” corrente de orações dos familiares e amigos; terços, novenas, mensagens, desejos; nomes para moções de curas, nos templos (independente de seguimentos religiosos), uma verdadeira cerimônia de canonização ao doente, no caso, eu. Nunca eu viesse saber “in vita” de minhas qualidades morais, intelectuais, humanitárias, caritativas, de fé cristã, como sei agora. Muita responsabilidade daqui pra frente, gente! Não posso mais pisar na bola!
Classifiquei todo esse episódio como “Alerta Número Um”. Isso, porque não havia do que reclamar em termos de doença mesmo nessa idade. Nunca havia engessado um pé, apesar de ser atleta amador das famosas “peladas”. Uma entorse, joelho, tornozelo, bobagem! Nada que não pudesse ser curado com remédio indígena (ervas medicinais) ou “salmoura” de herança africana. Ademais, repouso.
No entanto, quantos não têm seus alertas bem mais cedo. Às vezes, alertas definitivos, ou, dezenas de alertas e não se emendam. Sim, não se emendam! Porque esses alertas são convites a que tenhamos melhores cuidados com o que estamos fazendo em nossas vidas com relação a nós mesmos e ao nosso próximo. É um convite à seara do bem. É um momento para refletirmos sobre nossas negligências tanto a nosso físico quanto aos nossos atos externos. Como tratamos nosso corpo físico, veículo de nossa alma? Como tratamos nossos familiares em nossos lares? Nossos colegas de trabalho? Nossos colegas escolares? Que ouvido damos aos estranhos quando se dirigem a nós? Que tolerância temos para com o erro de nosso próximo. Que humildade temos para com nossos fracassos? Daí nos colocarmos em um hospital para refletirmos sobre nossas condições e, principalmente, para interagirmos com os sofrimentos alheios.
É do Chico Xavier uma interessante frase, mais ou menos assim:
“Quem quiser se avaliar quanto ao seu orgulho, egoísmo, inveja, presunção, visite um hospital, um manicômio, uma cadeia pública ou um cemitério”!
Ficamos aqui, agradecido a todos os familiares, colegas de trabalho, amigos, todos os meus leitores, desejando-lhes saúde e paz.
Deus os abençoe!