Alves dos Santos - Entrevistado

Alves dos Santos - Entrevistado

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

 

Alves dos Santos nasceu a 4 de Fevereiro de 1978 na cidade sul-africana de Johannesburg mas fez-se gente em Machico, terra onde os descobridores portugueses da bela Ilha da Madeira primeiro firmaram pé.

Aí fez os primeiros anos de escola, sempre rodeado de livros – uma paixão que despertou bem cedo, em forma de leitura compulsiva. Mas deixou-se igualmente encantar pelas ciências exatas, tendo prosseguido os seus estudos nessa área na cidade do Funchal e posteriormente ingressado num curso de Engenharia na faculdade de referência em Lisboa.

Foi sobretudo o choque com a saída precoce da sua Ilha e o confronto com a realidade não raras vezes solitária de uma metrópole como Lisboa, que o fez passar da leitura para a escrita.

Alves dos Santos define-se como um escritor que tanto se expressa em Poesia como em Prosa e que se inspira com as realidades do quotidiano.

Tem várias participações em Antologias Poéticas e publicou em 2014 o seu primeiro livro a solo intitulado ‘Poemas de Amor e Outros Labirintos’.

 

“Cada poema deste meu novo livro pode ser lido como um pequeno conto poético que encerra em si próprio histórias distintas de encontros e desencontros, de sonhos e desilusões, de confrontos com esta realidade que por vezes nos é imposta e que noutras vezes impomos a nós mesmos.”

 

Boa Leitura!

 

Escritor Alves dos Santos é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos como foi a seleção dos textos para o livro “Fragmentos do Quotidiano”?

Alves dos Santos - O prazer é meu. Tem sido um enorme privilégio poder colaborar com o vosso projeto de promoção e divulgação da Lusofonia.

Acredito que a nossa língua comum é uma das nossas maiores riquezas e que através dela podemos criar um espaço de partilha entre os escritores dos vários países lusófonos e os milhões de leitores que vivem e falam a língua portuguesa.

E esta partilha, iniciada através da palavra escrita, irá permitir conhecermos melhor as nossas realidades e os nossos sonhos, as nossas semelhanças e diferenças, e assim caminharmos juntos rumo a um futuro mais tolerante, mais acolhedor, onde o que nos distingue não serve para nos dividir, mas sim para nos enriquecer e valorizar.

Relativamente ao livro ‘Fragmentos do Quotidiano’ ele será publicado um pouco mais de um ano depois do lançamento do meu primeiro livro ‘Poemas de Amor e Outros Labirintos’ e resulta da inspiração que surge do meu próprio quotidiano e que, num ato contínuo, se transforma em Poesia.

Ao contrário do meu primeiro livro que agregava poemas que foram sendo escritos ao longo de vários anos, este ‘Fragmentos do Quotidiano’ inclui poemas escritos neste pouco mais de um ano.

Contudo a escolha dos poemas é sempre um processo complicado e que levanta sempre dúvidas. Mas no fim desse processo senti-me satisfeito com o resultado final e espero que os leitores gostem também.

 

Conte-nos um pouco sobre a obra?

Alves dos Santos - Cada poema deste meu novo livro pode ser lido como um pequeno conto poético que encerra em si próprio histórias distintas de encontros e desencontros, de sonhos e desilusões, de confrontos com esta realidade que por vezes nos é imposta e que noutras vezes impomos a nós mesmos.

Aliás uma das singularidades que sempre me atraiu na Poesia é a sua capacidade de sintetizar em alguns versos toda uma realidade, despertando sentimentos e levando-nos a refletir. E dessa reflexão resultam interpretações distintas para cada leitor, dependendo da forma como ele próprio se identifica com essa realidade.

 

O que mais o encanta em “Fragmentos do Quotidiano”?

Alves dos Santos - Fragmentos do Quotidiano é um livro que resultou integralmente de momentos de inspiração, um livro que surgiu nas sombras de outros projetos e atividades. E quando dei por isso tinha material suficiente para um novo livro.

Agradou-me sobretudo que tenha surgido com naturalidade. Sem pressões, sem condicionalismos.

E agora que está pronto, encantar-me-á sobretudo saber a opinião dos leitores.

 

Na sinopse do livro você fala em quotidiano contemporâneo, como você diferencia o quotidiano contemporâneo do clássico?

Alves dos Santos - O quotidiano contemporâneo é um tempo que está refém da ditadura do quantitativo sobre o qualitativo. Interessa o ter em vez do ser.

É um tempo em que o consumismo impera. O consumismo dos bens materiais, das ideias, dos ideais, dos sentimentos. E tudo é para ser consumido já, agora, de imediato.

É um tempo sempre com pressa, em que se corre mais mas se vive menos. E corre-se muitas vezes sem saber sequer porque se está a correr. É um tempo que muitas vezes nos oprime.

Nesse sentido a literatura, e em particular a Poesia, pode funcionar um pouco como um antídoto a essa urgência. Pode ser uma pausa, uma libertação temporária daquele quotidiano, para saborearmos na sua plenitude um verso, uma estrófe, um poema.

 

Que temas são abordados nos textos apresentados?

Alves dos Santos - Como referi anteriormente, este ‘Fragmentos do Quotidiano’ contém um conjunto de poemas que são pequenos contos poéticos sobre os mais diversos temas mas em que o Amor, a Amizade, as Perdas e os Reencontros, os Fins e os Recomeços são recorrentes.

 

Apresente-nos um poema da obra?

Alves dos Santos - Com todo o prazer. Escolho vos presentear com o meu poema ‘Maresia’, esperando que gostem:

 

Maresia

 

Banho-me na calmaria deste mar de Poesia

Transbordando das tuas palavras que se libertam das folhas que as amparam

E que falam

Da suave luz da Lua e dos raios quentes do Sol

Da grandeza do Universo e da nossa pequenez

De todo este Mundo ou apenas de nós

Palavras que são como sementes de onde germinam a tua Verdade e o nosso Amor

 

Imagino-te escrevendo do alpendre da cabana que construi toscamente para nós

De onde o mar se avista por entre um intenso odor a maresia que é quase palpável

E instintivamente recordo-nos mirando as estrelas

Entrincheirados em nós e nas nossas carícias

Enquanto me ensinavas a diferença entre os aromas do jasmim e dos lírios

E cobria-nos de forma lenta a noite amena, pacifica, envolvente

 

Regresso às tuas palavras

Em que confessas que me escolheste em liberdade

E que foi de forma livre que te entregaste à descoberta de quem sou

Num espírito de missão

Que se revelou indiferente à minha natureza volátil

Mas que te permitiu decifrar sozinha esse mistério

 

Revelas sem reservas

Nessa imersão desassombrada pela minha essência

Ter apagado todas as linhas de fronteira e definido novos limites

Numa descoberta de Outras Dimensões

Alicerçadas sem ruído em sentimentos mais simples e profundos

 

Consentes por fim e sem fingimentos

Que sou agora para ti um livro aberto onde não se escondem segredos

Mas que ainda assim tu anseias um dia reler

Numa espera que se faz com os olhos no horizonte

 

Quem desejar como deve fazer para adquirir o livro?

Alves dos Santos - O livro foi editado pelas ‘Edições Vieira da Silva’, que tem me ajudado em mais este projeto literário, e terá a sua sessão de lançamento em Lisboa no dia 30 de Abril.

Depois do lançamento o livro estará disponível em diversas livrarias físicas e online.

Ainda estou à procura de colocar o livro nalgumas livrarias físicas brasileiras mas no entretanto os leitores brasileiros que estejam interessados em adquiri-lo podem fazê-lo online na Amazon (www.amazon.com.br ), na Kobo (www.kobo.com ) ou no iBooks da Apple (www.apple.com/br/ibooks/ ).

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o livro “Fragmentos do Quotidiano” do autor Alves dos Santos. Agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Alves dos Santos - Gostava sobretudo de deixar uma palavra de agradecimento por todo o carinho e atenção que dão à Poesia e aos Poetas que são tantas vezes esquecidos pela maioria da comunicação social, mesmo aquela que supostamente é especializada.

Queria ainda salientar a honra e o privilégio que tem sido colaborar convosco neste trabalho sempre inacabado mas recompensador da divulgação da Literatura Lusófono. Um bem-haja a todos vocês e em particular a si Shirley e que este projeto continue cada vez com mais força.

 


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