Homens do mar são homenageados em O ARRAIS do autor Alves dos Santos
Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
O mar é uma outra coisa, não se vive nele com pressa nem se sobrevive a ele com medo. E ninguém sabe isso melhor que os homens do mar, que navegam por águas tantas vezes revoltas sem saber se de lá saem incólumes ou se esses mesmos mares serão, afinal, a sua derradeira morada.
A vida no mar é hostil, dura e perigosa. Ainda assim estes bravos homens, quando obrigados a ficar em terra, sentem-se como peixes fora d’água. Aquela vida entranha-se pela sua pele, e parece que deixam de saber viver quando não estão na faina. É vê-los fitando o mar com olhares perdidos.
E que coragem e loucura levam um homem a, perante um mar revolto, se enfiar por ele adentro em embarcações que comparativamente à dimensão dos oceanos mais não parecem que diminutas cascas de nozes?
“O Arrais” é uma história ficcionada, mas ainda assim tão rente da realidade cotidiana destes homens e com descrições contemplativas de beleza e harmonia, que permite encontrar poesia onde antes, por mais insistentes olhares que deitássemos a essas vidas, víamos apenas aspereza e agruras. A escrita de Alves dos Santos neste “O Arrais” envolve o leitor, transportando-o para a vida das personagens, numa transparência íntima e em ambientes de céu e luz que se vão alterando passo a passo como se fosse o balanço do mar.
Este livro é também, claramente, uma sentida homenagem do autor a todos os homens do mar e em particular aos de Machico, a sua terra.
“De facto, a escrita deste livro implicou extensa pesquisa e foram várias as descobertas e revelações que resultaram desse trabalho.”
Boa leitura!
Escritor Alves dos Santos, é um prazer contarmos, mais uma vez, com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, quem é“O Arrais”?
Alves dos Santos - Arrais é um termo que veio a cair em desuso, mas que se refere aos capitães ou mestres de embarcações de pesca. É um termo ainda usado em certas zonas piscatórias do mundo lusófono, e em particular na ‘minha’ Ilha da Madeira.
Os arrais são homens donos de uma grande dose de coragem e loucura que os tornam capazes de, mesmo perante um mar revolto, se enfiar por ele adentro em embarcações que comparativamente à dimensão dos oceanos mais não parecem que diminutas cascas de nozes.
Como surgiu inspiração para a escrita de seu livro “O Arrais”?
Alves dos Santos - Devido a ligações familiares, cresci muito perto destes lobos do mar e fui ouvindo suas extraordinárias histórias, nas quais relatavam os mais diversos episódios que vivenciavam em mar e terra: desde a luta por vezes mortal com os oceanos, às dificuldades de viver da arte da pesca sempre tão dependente da imprevisibilidade da natureza.
“O Arrais” é uma história ficcionada, mas estou convicto de que ter crescido ouvindo estas suas lutas diárias serviu como inspiração e motivação para criar este meu novo livro.
Descreva os principais personagens que compõem a obra.
Alves dos Santos - A personagem principal desta obra, como julgo que se adivinha pelo próprio título, é um arrais, que tem a particularidade de não ser conhecido em momento algum do livro pelo seu nome próprio. E isto foi propositado, porque por meio desta personagem, que no fundo encarna um pouco de todos os arrais, quis homenagear todos os homens do mar que tive a honra de conhecer.
E é em torno deste arrais e das suas aventuras e desventuras que esta obra conduz os leitores numa viagem com destino marcado sem que,no entanto,se conheça a rota.
Como julgo que foi muito bem sintetizado pelo meu grande amigo e escritor Tristão de Andrade no prefácio deste meu novo livro, que ele gentilmente acedeu a escrever, ‘manifestamente estamos perante as emoções da partida, da viagem, mas sobretudo da chegada, e sempre com uma única questão de fundo: qual é, afinal, o nosso lugar?’.
O que mais chamou a sua atenção sobre os arrais enquanto pesquisava para a escrita do livro?
Alves dos Santos - De facto, a escrita deste livro implicou extensa pesquisa e foram várias as descobertas e revelações que resultaram desse trabalho. Talvez o que mais tenha chamado a minha atenção tenha sido a forma como muitos destes pescadores, que pareciam quase nômades, levaram a sua arte piscatória um pouco por todo o mundo lusófono e até para além dele.
Quais os principais desafios para a escrita do enredo que compõe a obra?
Alves dos Santos -A escrita é algo que me fascina, e confesso a minha própria surpresa com o jeito como foi ganhando forma este meu novo livro. De uma forma metafórica poderia dizer-se que jorrou do meu mais profundo âmago.
Tinha naturalmente algumas ideias base, mas durante o processo de escrita eu próprio fui levado pelo enredo e dei comigo surpreendido com o que estava a surgir no papel.
Em termos de desafios, e uma vez que a escrita não é a minha actividade principal, penso que o principal foi mesmo a pesquisa que realizei com o pouco tempo que tinha disponível.
O que mais o atrai nesta obra literária?
Alves dos Santos - Prefiro que sejam os leitores a me contarem o que mais apreciaram nos meus livros, e com este meu primeiro livro de prosa gostaria que acontecesse o mesmo. É sempre especial perceber que algo que escrevemos num ambiente, muitas vezes solitário, se torna depois razão de confraternização e partilha.
Onde podemos comprar seu livro?
Alves dos Santos -Felizmente o livro está já disponível num conjunto alargado de livreiros físicos e online, nomeadamente:
Wook: https://www.wook.pt/livro/o-arrais-alves-dos-santos/19700751
Está também disponível na livraria online da minha editora ‘Edições Vieira da Silva’: https://www.edicoesvieiradasilva.pt/livros/ficcao/o-arrais
E os leitores podem também me enviar um e-mail diretamente, que terei prazer em dar detalhes de como podem adquirir este livro diretamente comigo, com a vantagem de conter dedicatória e autógrafo: alves.dos.santos.escritor@gmail.com
Podem também ir seguindo a minha página, onde vou publicando as minhas novidades literárias: www.facebook.com/PoesiaDoQuotidiano
Quais os seus principais objetivos como escritor?
Alves dos Santos - Como já referi, a escrita não é minha actividade profissional principal, e como tal tento aproveitar o pouco tempo livre para conseguir ir escrevendo. Mas assim fica naturalmente mais difícil criar metas com prazos fixos e perfeitamente definidos. O que tento é dar a mim próprio alguma flexibilidade temporal sem nunca desistir nos objetivos. Este processo é uma maratona e não um sprint.
E no fundo é esse mesmo o meu objetivo: ir escrevendo, seja em poesia ou prosa, enquanto houver inspiração, e no tempo que conseguir ir disponibilizando para a escrita.
Para já existem várias ideias populando a minha imaginação, por isso penso que ainda poderei produzir mais algumas obras… a ver vamos.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor “O Arrais”, do escritor português Alves dos Santos. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Alves dos Santos - Queria, antes de mais, deixar uma mensagem de agradecimento à Divulga Escritor pelo trabalho meritório que faz na promoção dos escritores do mundo lusófono, sempre inovando, sempre procurando melhorar e tentando chegar mais longe e a um maior público. E naturalmente um agradecimento aos seus leitores, que são quem, afinal, justifica a existência dos escritores.
Felizmente, a lusofonia cada vez mais deixa de ser um conceito abstracto e começa a ser, nomeadamente nas redes sociais, um espaço de divulgação, partilha e encontro.
Então que possamos nos ir encontrando por aqui!
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Contato: divulga@divulgaescritor.com