ALVORADA NA SERRA
Zzzzuuuuuuummmmmm -- zzzuuuuummmmmmmmmmm
O vento chega sussurrando para não despertar a lebre que dorme o sono dos velozes, a alegria dos libertos dos açoites da vida em congresso. Esse mesmo vento que cavalga as ondas marinhas que vêm de longe molhar nossas praias, salgar nossas costas, banhar nossos espíritos altaneiros, sobe a serra para bailar entre as nuvens e inspirar-se junto aos anjos da cortesia e contemplação. Como que alado, empurrado pelo ritmo da vida, viceja em todos os poros, enxuga as testas dos trabalhadores, escorrega pelas pernas dos caminhantes, e estufa os balões dos turistas.
Do alto de sua imponência ele acolhe os pedidos de socorro da gente que modorra o calor do verão; não há ninguém nas calçadas; não adianta, a brisa recolheu-se nas galeras dos piratas que procuram os tesouros dos ventos uivantes. Os corações solfejam a canção de uma precária vida de secura na boca, de olhos ardentes, de peles secas, rachadas e opacas. A Primavera sonolenta ronca no oco da serra, distante do bulício dos arbustos ardentes de seiva, com galhos e folhas que balançam ao sabor do grito da cotovia.
A alvorada na serra, além da luz, trás movimento, energia e esperança; desperta a vontade de ir além de nossas forças, de recarregar o dínamo da vida em família, alimentando a roda de fogo que insufla as paixões. A alvorada na serra não se detém para pensar se deve ou não cumprir com seu dever, para pensar se deve dar o próximo passo, ou se recolhe na desesperança dos vencidos. A serra pulsa vibrante em cada pico, em todos os seus pedaços esfacelados de altos e baixos, de ternos e agrestes, de cultos poetas que caminham a noite com a viola pendurada nas costas da paixão pelo lirismo do verso declamado.
. Na nossa serra podemos sonhar sempre aquecidos pelo manto que Deus nos regalou quando benzeu nosso rincão, e o bafejou de ternura, força e coragem. A luz que aquece os corações, é a mesma que abre as portas para o pátio do congraçamento; a harmonia é nossa irmã caçula que merece toda nossa atenção e carinho fraternal.
SOMOS FILHOS DAS ALTURAS
SÓ NOS RESTA SONHAR FLOCOS DE NUVENS...
ALAOMPE
Anchieta Antunes – Copyright
Gravatá – 01/01/2015.