Por João Paulo Bernardino – Escritor
Angela Maria Custódio Gaspar Caboz, natural de Tavira ( Santiago) onde nasceu 1966.
Conclui o ensino secundário em 1986 na Escola Secundária de Tavira, no curso de Humanidade. Trabalho há mais de 20 anos como assistente administrativa, na área comercial
Adoro coleccionar amizades e conhecer novas pessoa. Apaixonada desde sempre por leitura, música e cinema.
Fui ao longos dos anos ganhando o gosto pela escrita, escrevo alguns desabafos, mas estou longe de uma escritora. Em Setembro de 2014 arrisquei a publicação do meu primeiro livro “ À procura de um sonho”.
Boa Leitura!
JPB – Ângela Caboz, antes de mais os meus agradecimentos em nome da DIVULGA ESCRITOR por aceitares esta minha entrevista. Sei que lançaste muito recentemente o teu primeiro livro de poesia “À PROCURA DE UM SONHO”. Consideras que o estado da literatura portuguesa, com esta malfadada crise financeira e cultural, corre o risco de se desmorenar no vazio ou ainda há esperança para jovens escritoras como tu que sonham editar os seus originais?
Ângela Caboz - Eu é que agradeço o convite e a oportunidade que tu e a DIVULGA ESCRITOR me estão a dar para divulgar o meu livro e dar a conhecer um pouco de mim. De facto, se os portugueses já pouco tinham o hábito de ler, então agora, com está crise, ainda são menos aqueles que gastam o seu tempo e dinheiro com a literatura. Assim sendo, o sonho dos jovens escritores está muito complicado, porque como é óbvio, na hora de escolher um livro para comprar, dá-se sempre preferência a um escritor já consagrado e a um best-seller que conste da lista dos mais vendidos. O que faz com que quem ainda não é conhecido tenha muita dificuldade em singrar neste mundo que é a literatura. Mas quero acreditar que sempre existirá um lugar para o aparecimento de novos escritores, porque sempre fomos e somos um país de poetas. É algo que nos corre nas veias e que acho que nunca acabará. Só lamento que os portugueses não sejam leitores mais atentos e assíduos.
JPB – Esse teu livro de poesia foi inspirado em alguma circunstância e instantes da tua vida ou apenas na escrita compilada ao longo de vários anos e que agora quiseste dar a conhecer aos leitores?
Ângela Caboz - Como tu bem sabes, o poeta e o escritor tiram sempre alguns ensinamentos da sua própria vida que depois aplicam na escrita, se bem que camuflados e misturados com outros sentimentos que não são propriamente seus. Como tal, este livro tem muito de mim, na forma de pensar e na maneira de sentir, mas no fundo são poemas que fui escrevendo ao longo dos anos, alguns têm já mesmo muitos anos, outros são um pouco mais recentes e foram escolhidos ao acaso entre as centenas que já tenho escritos. É, no fundo, uma aventura a que me propus com o incentivo de alguns amigos que há muito insistiam para que eu realizasse este que era já um sonho antigo.
JPB - O que consideras haver de mais forte e marcante na tua poesia que se distinga de outros poetas e poetisas?
Ângela Caboz - Eu sou da opinião de que cada poeta tem o seu género muito próprio que o distingue dos restantes. Na poesia, para mim, ninguém é igual a ninguém. Como tal, não acho que exista algo que me distinga dos restantes poetas, sendo que tenho muita dificuldade em me assumir como poetisa. Ainda não consigo deixar de ficar surpreendida quando escuto alguém a chamar-me desse modo. Como já te disse algumas vezes, sempre achei que o que escrevo são simples frases que não passam de meros desabafos que transmitem o que estou a pensar no momento, os sentimentos com que sonho, a minha opinião sobre algo, etc. A haver algo de forte na minha poesia só poderá ser o facto de ela mostrar um pouco do que sou, alguém sem grandes pretensões literárias, que simplesmente é apaixonada pela leitura e pela escrita. Alguém que escreve de maneira simples e espontânea.
JPB - Leio muito do que escreves e sinto em ti toda uma imensa adrenalina de quem cria a ânsia de liberdade e os riscos de criar imagens e sentimentos bastante fortes. Conta-nos qual o segredo para escreveres sempre grandes poemas, imagens simplesmente lindas.
Ângela Caboz – Obrigado por leres e gostares do que escrevo. É sempre bom ter o feedback dos leitores sobre a nossa escrita, porque também aprendemos a melhorar e a corrigir os nossos erros ouvindo os comentários e as críticas de quem nos lê. Por vezes não tenho a noção exacta da intensidade daquilo que escrevo, porque no momento em que estou a escrever não me preocupo com esse pormenor. Pego numa frase, numa palavra, numa ideia ou em algo parecido e deixo-me levar pela escrita, entrego-me literalmente nas mãos da inspiração. São muitas as vezes, inclusive quando termino e leio o que escrevi, que acho que tudo o que ali está não faz sentido e penso que ninguém irá gostar. Daí que durante tantos anos tenha guardado os meus poemas só para mim, por pensar que eles não tinham qualquer valor. Não existe qualquer segredo na minha poesia, ela é tão simples quanto eu o sou. Não sei se serão grandes poemas, mas são a minha maneira de ver as coisas, o modo como as sinto. Transcrevo para a poesia tudo o que está em mim.
JPB - Num dos teus magníficos poemas dizes que “escrevo-te sobre o amor profundo/ escrevo-te sobre as estrelas/ escrevo-te sobre as minhas lágrimas/ escrevo-te pensando no teu carinho/ escrevo-te gritando para o mundo”. Qual a tua principal mensagem quando escreves poesia?
Ângela Caboz - A de transmitir a minha ideologia de que devemos amar a vida, aproveitar a ilusão do tempo que é sempre pouco para realizar todos os nossos sonhos, a minha necessidade de acreditar nas pessoas que me rodeiam, o meu gosto por fazer amizades e conservá-las eternamente. É tudo isso que eu tento transmitir nos meus poemas. E como tu, enquanto escritora e também poeta, sabes que um poeta é sempre um fingidor e, por isso, às vezes escrevo sobre aquilo que sonho e não sobre aquilo que me acontece no dia-a-dia. Escrevo sobre o mundo em que gostava de viver, pintando na minha simples poesia o mundo da cor como o vejo, podendo desse modo deixar de ver aquilo de que não gosto.
JPB - Escrever em antologias/colectâneas é encontrar no final histórias paralelas, sempre surpreendentes de alguma forma. Tenho acompanhado o teu percurso como escritora nessas antologias, tais como “A Essência do Amor”, “Eu tenho um Sonho”, “Confissões” e “Terra Luz”. O que achas de escrever nesse tipo de formato e qual o teu propósito ao fazê-lo com enorme frequência?
Ângela Caboz – Escrever em antologias é a oportunidade de participar em grandes obras ao lado de grandes escritores, como é o teu caso em particular e o de outros escritores com quem já tive o prazer de compartilhar o espaço de um livro. É a possibilidade que as editoras nos dão de mostrar de uma forma simples o que escrevemos, bem como o facto de também podermos conhecer de perto os outros escritores. Permite-nos uma troca de ideias e de opiniões, porque naquela ocasião não somos concorrentes, mas sim elos de uma mesma corrente. Da mesma forma que nos dá uma primeira opinião por parte da editora e por parte dos leitores sobre o que escrevemos. Gosto desta modo de partilhar literatura porque dá ao leitor a possibilidade de, num só livro, ler textos de vários autores.
JPB - Em quase toda a tua obra já publicada admites uma escrita de inspiração unicamente feminina ou o universo masculino também consegue abarcar o que pretendes passar para o leitor?
Ângela Caboz – Enquanto mulher é óbvio que escrevo mais no feminino. Não quero com isso dizer que o público masculino não goste de ler o que escrevo e até já tenho tido muito bons comentários provenientes de homens. Como já deves ter reparado, sou uma romântica incorrigível, uma sonhadora, e por isso escrevo muito sobre o amor, o que tenho, o que gostaria de ter, o que sonho que possa um dia acontecer. Enfim, às vezes vivo um pouco no mundo cor-de-rosa do amor e isso é algo que não consigo ocultar na minha poesia. Para mim, o tema do amor é eterno e em que, no feminino, encaixa muito melhor. Só uma mulher literalmente pode morrer de amor. Quando passamos essa imagem para o masculino, desculpa-me, mas não têm a mesma intensidade. Mas em paralelo também gosto de escrever sobre outros temas e por isso acho que a minha poesia pode chegar a ambos os universos.
JPB - Muitas vezes considera-se que os jovens escritores aspiram a grandes rasgos estéticos nos seus livros mas não respeitam a inteligência do leitor. Comenta, por favor, sabendo que és uma pessoa de gostos simples e cuja obra reflecte o que és e o que pensas.
Ângela Caboz – É verdade. Os jovens escritores (e não só) usam por vezes grandes floreados literários, recorrem muito a metáforas e a palavras muito elaboradas que podem afastar um leitor mais simples. Mas não entendo isso como um desrespeito pela inteligência do leitor. Acho que tem mais a ver com a maneira de cada um de escrever e de sentir as coisas. Há escritores que têm um grande poder visual e que o conseguem transcrever minuciosamente em palavras. Pessoalmente acho que escrevo com a mesma simplicidade com que todos nós temos os sentimentos, escrevo de um modo que as pessoas se identificam com o que lêem. Por isso são muitas as pessoas que por vezes me comentam, que se reveem na poesia que escrevo. Já me disseram inúmeras vezes “até parece que sabes o que eu estou a sentir” ou “ essa poesia parece a história da minha vida”.
JPB - Confessas que foste ao longo dos anos ganhando o gosto pela escrita, escrevendo apenas alguns desabafos, mas que estás longe de seres uma escritora (quanto a mim acho que o és garantidamente!). O que mudou em ti nos últimos cinco anos como escritora e o que achas que acontecerá contigo dentro de uma década no panorama da literatura em Portugal?
Ângela Caboz - De facto, o gosto pela escrita foi crescendo comigo. Apaixonei-me pela poesia quando um dia uma professora de Português nos deu para interpretarmos o poema “A pedra filosofal”, de António Gedeão. Confesso-te que foi amor à primeira vista. A partir daí nunca mais deixei de ler poesia. Depois, ao longo dos anos fui escrevendo mas não de uma forma exaustiva porque passava longos períodos sem o fazer. Neste últimos anos senti uma maior necessidade de escrever e hoje tenho que o fazer diariamente. Acho que esta necessidade tem muito a ver com a maturidade dos sentimentos, que é hoje muito maior do que na juventude. Agradeço o teu comentário sobre o facto de achares que sou realmente uma escritora, mas digo-te que não consigo imaginar o que me poderá acontecer daqui por uma década. A única coisa que te posso garantir é que estarei mais velha. Mas posso dizer, como curiosidade, é que neste momento tenho preparados mais seis ou sete livros. Este primeiro foi um sonho e uma aventura. Agora vou esperar para ver no que vai dar.
JPB – Chegámos ao final e agradeço uma vez mais teres proporcionado este excelente momento para nos dares a conhecer. Mas não quero deixar, talvez por ser um tema recorrente, de perguntar-te se consideras que as editoras independentes que proliferam no nosso país aliciam os escritores com a promessa de consagração ou apenas fazem da edição um simples negócio?
Ângela Caboz – Eu é que te agradeço o tempo dispensado, e é e será sempre um prazer falar com alguém que eu tanto admiro. Quanto ao tema de que falas, de facto hoje em dia a publicação de um livro está mais facilitada. Qualquer um de nós, em troca de algumas centenas de Euros, pode editar um livro, o que faz com que se julgue que nem sempre o que se edita têm qualidade. As editoras por vezes podem levar-nos a sonhar com a possibilidade de consagração rápida e fácil. Mas o que todos nós deveríamos saber é que não é essa a realidade porque, pelo facto de termos de pagar a edição de um livro, não nos garante que ele seja um sucesso. E hoje em dia existem muitas editoras a colocar anúncios a aliciar os escritores tendo em vista o lucro garantido para a editora, sem que exista a garantia de sucesso para o autor. Por isso, o escritor paga e por vezes os livros acabam esquecidos nos armazéns dos livreiros por falta de leitores ou por falta de divulgação da obra pela editora.
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