Entrevista com a escritora e ativista cultural Angeli Rose
Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Angeli Rose é carioca, geminiana, autora de Biografia não autorizada de uma mulher pancada, livro impresso infanto-juvenil, entre outras produções autorais, com participações de coautoria em antologias nacionais e internacionais. É Dra. Em Letras(PUC-Rio),PhD em Educação(UFRJ) e atualmente faz o segundo pós-doutoramento em Letras, também na UFRJ. É idealizadora e coordenadora do “Coletivo Mulheres Artistas”, atividade de âmbito nacional que reafirma o ativismo voltado para o empoderamento da mulher na área cultural. Tem sido agraciada com diversos prêmios e títulos honoríficos, porém, destaca a Comenda Antônia Leitão (ALB/Campos/Câmara Municipal), a Medalha Marielle Franco(Literarte/Casa Olodum) e o troféu Eva Perón como “Embaixadora da Paz”(Literarte/NLABA),Doutora Honoris Causa em Educação, pelo Instituto de Altos Estudos Samarthianos/Febacla.
“Além desse, temos o MULHERES ARTISTAS NA JANELA que consiste em lives temáticas especiais com agenda variável e de acordo com o assunto que sentimos ser mais urgente e emergente tratar.”
Boa Leitura!
Escritora e ativista cultural, Angeli Rose, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, como surgiu “Coletivo Mulheres Artistas”?
Angeli Rose - Há muito tempo sentia necessidade de estar num grupo feminista direcionado para as questões de gênero, porém, com foco na produção cultural e que não fosse nem uma acadêmia, nem tivesse a formalidade universitária. Então, final do ano passado abri um grupo de whatsapp só para mulheres artistas e ativistas culturais. Fui convidando uma a uma explicando o intento de tratar de questões relacionadas à cultura, às linguagens artísticas de mulheres, em âmbito nacional num primeiro momento. Depois, em conversa com algumas amigas e colegas de ofício fui evoluindo na ideia de criar um coletivo cultural. Claro que experiências anteriores serviram como combustível para dar forma ao coletivo de hoje, como ,por exemplo, uma ala que certa vez criei no Bloco “Dois pra lá, Dois pra cá”, do Carlinhos de Jesus do RJ, era a “Ala Mulheres que dizem sim” no carnaval de 1992, também meus estudos e pesquisas em formações foram responsáveis por fazer a ideia crescer dentro e fora de mim. Entretanto, o caso do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco foi definitivo para entender que estava mais do que na hora de agir e impactar a realidade em prol do bem estar das mulheres. Então, no início deste ano, nomeei o grupo de whatsapp “mulheres artistas” que foi evoluindo e recebendo adesões mais consistentes, conheci a amiga Maria José Esmeraldo(CE) em Buenos Aires e ela foi uma grande incentivadora e parceira no propósito, além de ser especialista em bullying e violência nas escolas. Em seguida, o COLETIVO MULHERES ARTISTAS nasceu em plena pandemia, embora fosse idealizado para desenvolver-se em caráter híbrido, presencial e digital. Nesse momento, na base do voluntariado eu contava com um pequeno comitê disposto a produzir interações e ações culturais efetivas em forma de projetos. Criamos um “grupo de trabalho”(GT) de 6 colaboradoras mais constantes, e o grupo de whatsapp passou a ser “Pró-coletivo Mulheres Artistas”, constituído de colaboradoras e simpatizantes, assim como temos o canal do Youtube coletivo mulheres artistas.
Quais os principais objetivos do Coletivo?
Angeli Rose - Articular as questões de gênero, feministas às questões culturais contemporâneas e a uma agenda de lutas que considere a violência contra a mulher; a formação de crianças e jovens numa consciência diferente do que tem sido a produzida pelo patriarcado e pelo machismo; o exercício da sororidade para além da discursividade; a produção de conteúdo que reafirme e dê visibilidade às mulheres artistas e suas obras; a questão do preconceito racial, incluindo as mulheres indígenas como tema a ser sempre objeto de práticas culturais. Assim, arte, educação e política são instâncias estruturadoras do COLETIVO MULHERES ARTISTAS. O “coletivo” também se propõe a uma gestão coletiva, ainda que eu exerça a coordenação geral do coletivo, porém, o objetivo também é promover um protagonismo plural e não personalístico, e já estamos colocando isto em boas práticas, através de nossos projetos. Mas estamos construindo juntas os objetivos e aprendendo juntas a gerir o coletivo.
Quais as principais atividades desenvolvidas por meio do “Coletivo Mulheres Artistas”?
Angeli Rose - O CMA está com 2 projetos autorais, próprios do “coletivo”: Mulheres Artistas Conversam… que consiste em lives semanais, às terça-feiras, às 19:30, em que convidamos uma artista de qualquer linguagem para uma conversa roteirizada ,mediada por uma de nossa colaboradoras e organizada por mim. Nesse projeto, temos 3 eixos que são abordados, o eixo antropológico; o eixo estético; e o eixo sociológico, nesse último, pedimos à convidada para tecer uma breve reflexão sobre a condição da mulher na contemporaneidade. esse projeto também vem ampliado o alcance eventualmente com o auxílio luxuoso de uma intérprete de libras.
Além desse, temos o MULHERES ARTISTAS NA JANELA que consiste em lives temáticas especiais com agenda variável e de acordo com o assunto que sentimos ser mais urgente e emergente tratar. Nesse, em outubro tivemos a série MULHERES E POLÍTICA: DESAFIOS E PROPOSTAS, aliado à campanha MULHER VOTA EM MULHER - REPRESENTATIVIDADE CONCRETA. A série de lives semanais, aos sábados pela manhã, durou o mês de outubro e início de novembro ,trazendo para a conversa quatro candidatas ao pleito municipal como convidadas, uma mediadora -colaboradora e eu como organizadora. Essa iniciativas estão gravadas e são registros que produzem a história e a memória do “coletivo” que se insere na história cultural do país e da comunidade lusófona.
O coletivo também apoia iniciativas individuais e é apoiado por instituições e/ou associações, por exemplo. Em realidade, o “coletivo” está se estabelecendo e vem mais projetos novos por aí...
Quem pode participar?
Angeli Rose - Em princípio, toda mulher ou jovem artista, ou ativista cultural que esteja disposta a interagir com outras mulheres para criar novas ações culturais, para além das individuais, sem perder de vista o aspecto autoral. é importante também ser afim à agenda de lutas e propósitos que o “coletivo” defende, desde o “direito à literatura”, passando pelo feminismo em suas formas variadas contemporâneas, até a reafirmação do potencial feminino com visibilidade na cultura brasileira e lusófona.
Como fazer para participar?
Angeli Rose - O COLETIVO MULHERES ARTISTAS tem o email de contato coletivomulheresartistas@gmail.com que é o contato principal do gupo. Basta entrar em contato e nós então abrimos um breve e simples processo de adesão, dando ciência da dinâmica do grupo de whatsapp e dos projetos em curso.
Além de articuladora do “Coletivo Mulheres Artistas” você é colunista do JCB, comente como é desenvolvido o seu trabalho em parceria com o Jornal Clarin Brasil.
Angeli Rose - Sim, esse ano, mesmo com a Pandemia, acabou sendo um ano bastante produtivo e de diversificação de frentes de atuação cultural. A coordenação do “coletivo” consome bem o meu tempo, mas um tempo de criatividade a mil, nesse ínterim, como membro - correspondente da Academia Mineira de Belas Artes que sou recebi o convite do amigo e presidente da AMBA, Paulo Siuves, para integrar o time de colunistas que ele estava formando num convênio estabelecido com o Jornal Clarín Brasil (digital) para a secção “Cultura & Lazer”. É uma atividade muito prazerosa e acalentada há muito tempo, a de ser colunista de um veículo de comunicação do porte do JCB. Na minha coluna semanal, agora aos sábados, tenho liberdade para tratar o tema que desejar com a abordagem que me aprouver. Confesso que é uma experiência ímpar na minha vida e ao mesmo tempo bastante desafiadora, uma vez que o número de “likes” recebido a cada texto publicado também é o termômetro para compreender alguns aspectos interessantes sobre os leitores e as leitoras de nosso tempo. Também é um desafio porque estou entre colegas muito bem preparados, qualificados que fazem da divulgação da cultura seu propósito de vida. A propósito, por conta dessa atividade, acabei de receber o prêmio “Melhores do Ano 2020” da Literarte na categoria “cronista”.
Quem desejar, como deve proceder para conhecer o JCB?
Angeli Rose - O Jornal Clarin Brasil está disponível no site :
https://jornalclarinbrasil.com.br/
E a minha coluna pode ser acessada :
Quais textos gostas de escrever?
Angeli Rose - Olha, recentemente, em uma outra entrevista comentei que escrevo com mais frequência poemas, mas meu desejo é narrativo. De certa forma, a crônica está sendo uma alegre revelação para mim, mas a minha formação acadêmica fala muito forte também e anda pedindo atenção.
Apresente-nos os seus próximos projetos literários
Angeli Rose - No que se refere ao COLETIVO MULHERES ARTISTAS, espero contar com colaboradoras dispostas a produzir conteúdo relevante sobre a condição das mulheres artistas, refletindo sobre os espaços ocupados por mulheres, o mercado cultural e as políticas públicas no Brasil, além de criar ações que possam reafirmar o potencial de mulheres artistas e ativistas culturais. E mais surpresas por aí…
No campo literário, espero efetivar os lançamentos adiados este ano ,por causa da pandemia, já que fui bastante produtiva nesse ano. Aguardem!
No meio acadêmico, estarei me dedicando até o meio do próximo ano ao pós-doutoramento que estou realizando na centenária UFRJ com muito orgulho de ter sido aceita para fazê-lo nesta instituição, a respeito dos discursos sobre o Rio de Janeiro dos anos 20,partindo da obra do jornalista e escritor Ruy Castro. Tenho uma revista digital para produzir, artigos acadêmicos, enfim, produção de conteúdo em diferentes dispositivos , a partir da pesquisa em curso.
Na esfera do pertencimento a associações e academias, sempre colaborar para estimular em tais espaços a reflexão sobre a cultura brasileira e a defesa da Literatura.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora e ativista cultural Angeli Rose. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Angeli Rose - Eu desejo, sinceramente, que todo o aprendizado difícil que a pandemia do Corona Vírus tem imposto à humanidade reafirme a importância da arte na vida das pessoas e constituição dos povos, como um motor de transformação para uma convivência melhor entre nós, com qualidade de vida que inclua menos desigualdade social, menos violência contra as mulheres e mais solidariedade entre os seres humanos.
Meu Currículo Lattes
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