ANGÚSTIA DE ONTEM E HOJE
Relendo o livro Angústia, de Graciliano Ramos, publicado em 1.936, encontrei nos capítulos semelhanças com os indivíduos da atualidade. A narrativa retrata o dilema do protagonista, um acanhado funcionário público que vive numa casa decadente e cheia de ratos. Para aumentar o salário, escreve artigos sob encomenda para um jornal. Entre outros episódios, narra a falta de dinheiro para pagar o aluguel, o bonde e as despesas da casa.
O drama do protagonista de Graciliano Ramos é o mesmo do endividado atual, que gasta mais do que pode pagar no final do mês. Somados o baixo salário e o hábito consumista, a pessoa torna-se refém da dívida. É o desempregado insone, o pedinte resignado, os juros roedores.
É possível entrar na sensacional obra do escritor e se identificar com a situação de dureza, tão explícita na narrativa. É fácil interagir com os trechos do livro: “Depois do dia vinte é preciso que uma pessoa se tranque para encurtar a despesa. Pedir não é desonra. Sangrei duzentos mil-réis. Estou na pindaíba, ouviu? Dívidas, três meses de aluguel de casa. Um empréstimo, era o que me valia. O dinheiro foi feito para circular.”
Os jornais de hoje divulgam o sonho da casa própria, a angústia do cartão de crédito, das compras parceladas e das taxas de juros.
Herdamos angústias – angústias de ontem e hoje.
Crônica do livro “Um pindaíba nunca está sozinho”