Apetitosamente... Irregular - por Maria de Fátima Soares

Apetitosamente... Irregular - por Maria de Fátima Soares

APETITOSAMENTE... IRREGULAR.

POR FÁTIMA SOARES

 

Daquelas coisas que se fazem e não gostamos de confessar, mas nos levam a retroceder no tempo e rir… Rir, muito e saudavelmente! Sentir aquela adrenalina única, da fuga, que sente todo aquele que está a “pecar,” mas tão inocentemente…

Aconteceu-me numa viagem há dois anos a Ourém. Passeio agradável, petisco saboreado e à tarde, já no regresso das habituais visitas históricas, que costumamos não desperdiçar e privilegiar, sempre que se vai a uma cidade ou aldeia portuguesa, para se aprofundar conhecimento e enaltecer as raízes, de que nos orgulhamos… Eles ali estavam! Desafiadores.

Juro! Nunca na minha vida fiz marmelada! Se mo perguntassem, gosto, claro, mas sempre a comi feita por tias, também tios, que cozinham lindamente (ou não tivessem sido cozinheiros a bordo de navios da marinha mercante), todavia não me seria uma coisa (doce) assim, tão especial que me levasse ao extremo! Recusaria terminantemente sair dos meus cuidados, quando os mesmos (marmelos) me miravam do cimo de uma escadaria sem fim, que daria acesso a uma antiga ermida. Pelo menos, era o que a cruz bem visível no alto, cá de baixo, indicava. Porém… Seria o demo?! Malvado. Fosse, quem fosse. Os meus olhos e sentido não se desviavam dos frutos ali, “à mão de semear” sem ninguém por perto.

Não adiantou chamarem-me, avisar que seria feio, porque eu mesma sabia enquanto subia que era errado. Todavia, apoiada na desculpa de que a ermida seria bonita, lá fui, escadas acima (com esforço a crescer, e os bofes de fora) tentar, na realidade, “surripiar” os marmelos que me tentavam.

Houve auxílio, sim! Tive coniventes, quando quase a cimo da escadaria, me dei conta que o tamanho que tinham, vistos de baixo, não era em nada semelhante ali ao pé e de bochechas a queimar, respiração a faltar-me, um chilique quase a dar-me, sentei-me no degrau e desatei a resmungar, como um não rezingão! Quase a chorar, porque as forças me faltavam. E… Mesmo que fossem pequenos, eu os queria. Criancice, pura! Mas desejos me fizeram! Para que não fossem só os acompanhantes os prevaricadores, aos pés do Senhor lá dentro, observando-nos por detrás da porta fechada, da pequena igreja branquinha… Lá roubámos (que indecoroso) os magros marmelos, que já no carro exibi orgulhosa! Contudo, para não dar o braço a torcer e razão a quem o dizia… Não dariam, para nada! Mas? Valeriam a peripécia, que ainda hoje não foi esquecida. E a marmelada?! Lá se fez, sem grande ideia do que se fazia, só apoiada na internet e no que ouvira e vira a mãe fazer um dia. Sabendo que as cascas dão geleia. O miolo sim, a marmelada… Eu resolvi adaptar e como quase sempre, tive sucesso! Saiu uma marmelada deliciosa (em duas tacinhas de arroz doce pequenas) como os frutos, mas que se comeu e nos lambuzou… Porque marmelos assim, talvez não haja por aí tão bons!

Agora pergunto: Seria por terem sido “desviados” à “margem da lei” que nos sentimos salteadores, numa aventura mágica e correria doida que ninguém perseguiu, ou queixou? Teria rido Jesus, no seu altar, das tropelias insanas, de quatro pessoas adultas que resolveram recuar no tempo? Tê-los-ia abençoado, para que nos soubessem, melhor? Talvez. Porque eram tão enfezados e poucos, mas nos souberam muito melhor, que os mais redondos e “legais,” comprados num supermercado!

Deve lá estar ainda, o lugar e a árvore em que crescem. A quem ela pertença, o meu obrigado! Com esta idade… Nunca esquecerei, nem velhinha, aquele passeio a Ourém.

 

 

 

 

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