APUROS
Exatamente quando estava com o intestino indomável, o celular toca. Pior que aguardava uma ligação há dias, estava desempregado e a boa notícia poderia vir dessa ligação. O problema era que eu, com o intuito de aliviar o desconforto intestinal, estava sentado no trono. Algo tão natural quanto dormir e acordar. Sabia a causa do desconforto, excesso de ovos fritos consumidos altas horas da noite.
O celular insistia, alheio à agonia de um pobre enfezado.
Com elegância de uma alma que está acomodada na privada de um banheiro, atendo o celular que está no bolso da calça.
− Alô!
− Aqui é da agência de emprego, o senhor pode atender?
− Poderia ligar mais tarde? No momento eu estou resolvendo algo extremante importante.
− Sabe se vai demorar?
− Depende.
− Depende de quê?
− Depende do desenvolvimento da manifestação.
− Manifestação? O senhor está lutando por alguma causa?
− Sim, uma das causas mais elementares do ser humano.
− Muita movimentação por aí?
− Não, estou sozinho.
− Mas não se trata de uma manifestação? Afinal, qual é a natureza da causa?
− Natureza morta.
− Perdão, não estou entendendo. De qualquer maneira liguei para comunicar que a vaga pretendida está disponível. O senhor precisa comparecer ao escritório ainda hoje.
− Ai! Ui!
− O senhor está bem? Precisa de ajuda?
− Em virtude do meu problema bombástico, não posso comparecer no momento.
− Afinal de contas, o senhor quer ou não a vaga de emprego?
− Se me permite dizer, eu quero mesmo é defecar!
Crônica do livro “Selfie da macaca”
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