ATITUDE
“Se perceber que irá cair, deite-se” (esta frase fantástica me acompanha pela vida!), em primeiro lugar, por seu conteúdo, em segundo porque me faz lembrar de um amigo querido, que a dizia sempre em situações engraçadas.
Sábia frase! Graças a ela, aprendi também a conviver, pacificamente, com minhas gafes e tomar a dianteira na hora da risada.
“Se perceber que cometeu uma gafe, seja o (a) primeiro (a) a rir”!
Somos humanos, não somos? Qual é o problema?
Acredito que, hoje em dia, as pessoas são mais descontraídas em relação a isso. Antigamente, não! Uma gafe era imperdoável, razão pela qual as pessoas tentavam de toda maneira disfarçá-la, ou trancar-se num quarto escuro, até todos esquecerem o ocorrido. Hoje em dia, às vezes, transforma-se em crônica, ou em bate-papo no happy hour! De qualquer forma, temos um final feliz.
Pois bem, o que aconteceu comigo não foi, propriamente, uma gafe! Ou foi?! Não sei! Estou meio confusa, ainda! Tendo em vista, o local onde ocorreu, acho que foi um vexame... ou um acidente? Nada a ver... Isso é o que menos importa! Aos fatos!
Todos sabem que não é nada fácil passar pelo Raio X de qualquer aeroporto. Nós, mulheres, usamos muitos objetos de metal (sapatos, bolsas, bijuterias, etc e tal). Se, no Brasil, já me acostumei a tirar os sapatos na Hora H, ou seja, na Hora X, imagine minha situação, em um Aeroporto da Europa, com quatro amigos, pois dois “esticaram” a viagem por alguns dias, numa situação em que devo culpar Murph, mais uma vez, por sua bendita lei. Tinha que acontecer comigo, NAQUELE momento!
Já estava no oitavo dia fora do Brasil e minha noção da moeda “real” ainda não havia se perdido, pois havia calculado tudo, nos mínimos detalhes (bendita Matemática!). É óbvio, que o clima e o glamour de Paris, mexeram conosco e já estávamos num estágio perigoso:
“Nossa! Que barato! Só 03 euros!” (Esquecíamo-nos de multiplicar os valores! Só depois de alguns minutos, ou horas, caíamos na realidade! Opa! Somos do “real”!)
Resumindo tudo: Já nos encontrávamos no Aeroporto; teríamos que esperar, SOMENTE, por seis horas, pelo voo e depois dormiríamos por toda a noite, sobre o Atlântico... entre “pastas” e “cafés”...
Por essas e outras, caprichei no visual, coloquei minha bota de cano alto confortável (para todas as horas), despachei todos os sapatos pela mala e coloquei, somente, alguns papéis e objetos de higiene pessoal na bagagem de mão. Tudo perfeito!
Ao passarmos pela vistoria:
_ Por favor, quitarse los zapatos , señora … rápido! Los sapatos, señora!
Já acostumada a essa situação, retirei, velozmente, as botas… passei pela máquina e… quando fui puxar o zíper do lado esquerdo da bota, ele, simplesmente, arrebentou!
Os amigos “entraram em ação”:
_ Trouxe um sapato de reserva, na “bagagem de mão”?
_Não! – respondi. Despachei todos os sapatos, com os demais materiais e roupas!
_ Não tem nem uma “rasteirinha”, ou “chinelinhos?”
_ Todos nas malas! Não queria carregar peso! Já sofri muito na vinda, com o peso que carreguei!
_ E agora? – perguntou uma amiga _ Vai comprar um sapato, no aeroporto?
Em questão de segundos, pensei nas lembrancinhas que comprei em Paris, nos objetos pessoais adquiridos, no restante de euros, em minha bolsa e, principalmente, na próxima fatura do cartão.
_ Bobagem! Só preciso grampear, ou prender o zíper! Alguém tem um grampeador?
Todos se entreolharam:
“Claro que não!”
Uma amiga tinha uma corda “super-resistente”, “sobrevivente” de nossa Exposição!
_ Serve esta corda?
Um amigo solidário:
_ Lógico que sim! Vamos amarrar o cano da bota, agora!
Foi trançando, apressadamente, e eu, muito abusada:
_ Dá para ser um pouco mais simétrico? (Já ria muito a esta altura do campeonato!)
Ele trançou, simetricamente, o cano da bota. Ficou interesante!
Como restavam alguns metros do material, perguntei, com a “maior cara de pau”):
_ Dá para trançar o lado direito também? Assim teremos uma simetría maior!
Lá foi meu amigo, realizar a “instalação humana”!
Perfeito! As duas botas estavam, SIMETRICAMENTE, amarradas, por uma corda em tom pastel, que combinava com a roupa!
Agradeci aos amigos e iniciei meu desfile pelo requintado Aeroporto.
Como nada mais havia a ser feito, lembrei-me da frase: “Se perceber que irá cair, deite-se!”
Foi o que fiz!
Por seis horas, andei com as botas, devidamente, amarradas, mas com um semblante, muito natural. Acho até que cheguei a desfilar um pouco, para imprimir uma marca àquele estilo.
“Sigam-me, se desejarem! É a última moda!”
Acreditem se quiser, embora houvesse muitos brasileiros no aeroporto, tanto os patrícios, como os habitantes de outras regiões do Planeta, reagiram normalmente. Algumas pessoas até observaram o “modelito”, com bastante atenção, como se quisessem copiar.
Continuei firme até o embarque, quando pude relaxar no avião.
Perceberam, só?! Tudo é uma questão de postura… de atitude!
Aterissagem em Guarulhos! Ao descer do avião, escutei os primeiros risinhos!
Pensei comigo:
_ Gente boba! Nada de “mesmice”! Chique é transgredir!
Quando cheguei em casa, antes de, literalmente, “desmaiar”, arranquei as botas, joguei-as com tudo no lixo e pensei:
_ Deixem estar! Vocês me pagam! Chique é transgredir, não?! “Se perceber que irá cair, deite-se!”