AUTORA DESCONHECIDA
Nessa minha vida, aparentemente, rotineira, acontecem tantos fatos bizarros e inusitados, que, sinceramente, acredito que Deus me envia situações engraçadas, para me inspirar a escrita de crônicas.
“Autora desconhecida...”
O título da crônica pode, à primeira vista, sugerir que um texto foi utilizado, em determinada situação ou evento, sem que o leitor tivesse conhecimento de sua autoria... Fato comum, hoje em dia, em que até Shakespeare, muitas vezes, empresta seus textos, a pessoas que o intitulam de “autor desconhecido”... Em um mundo virtual, em que as pessoas realizam leituras dinâmicas pela Internet ou “recortam” e “colam” excertos de clássicos, com a maior facilidade, este fato é comum.
Pois bem... Não vou falar a respeito desse assunto! Necessitava de uma introdução...
Aconteceu COMIGO... Lógico!
Sempre tive o privilégio e a honra de participar de diversos Simpósios, Congressos, e Seminários de Leitura e Literatura, inclusive com publicação de artigos, espalhados pela REDE, ou inseridos em e-books. Pois, num desses Congressos, os organizadores, em atitude de cortesia, abriram espaço para congressistas “autores”, para sessão de autógrafos e divulgação de livros, em noite pré-determinada. Muito entusiasmada, com a primeira produção “individual” em mãos, inscrevi-me para lançá-lo em outro Estado do Brasil. Que maravilha! Participaria de um grande Congresso e teria oportunidade de lançar meu livro, juntamente com autores iniciantes, além de estar ao lado de ícones da literatura, LÓGICO!
ENTUSIASMADÍSSIMA fiquei!
Ritmo de Congresso é intenso e “gostoso”!
No dia do lançamento, não tive tempo de me “embonecar” como gostaria, mas estava muito feliz e havia conhecido uma simpática colega, que me acompanhava a todas as palestras. Sem dúvida alguma, ela foi minha convidada de honra. Nessa época, ainda não tinha conta no facebook, mas, mesmo assim, levei uma maquininha digital, para registrar o grandioso acontecimento.
Às 20h, iniciou-se o Lançamento... Cada autor teve direito a uma mesinha redonda coberta com uma toalha branca e charmoso vasinho. À minha direita, havia uma legião de novos autores e seus respectivos representantes, com maquininhas de cartão : “Crédito ou débito?”. À esquerda, havia um ícone do universo linguístico (autora famosíssima no mercado editorial), que olhou para mim com uma carinha de: “Você é a famosa ‘quem’?”
Apresentei-me e senti-me honrada por estar próxima de tão notável pessoa.
O comércio teve início... Minha colega pegou, rapidamente, minha máquina fotográfica e iniciou os registros... Mas... Como registrar aquilo? Todos passavam por mim e se atiravam nos ícones, como se eu fosse invisível. Vez ou outra aparecia um congressista e me olhava com uma feição de piedade, perguntando: “Você também é escritora?”
Olhei-me dos pés à cabeça e sorri... Haveria uma “cara” específica para uma escritora? Deixe para lá!
A autora famosa tinha, como acompanhante, uma representante da Editora, devidamente provida de uma máquina de cartão. Realizava várias transações; parcelava; aceitava todos os cartões de crédito e débito e confesso que fiquei feliz com a situação, pois, naquele momento, só tinha vinte reais trocados em meu bolso e não teria como retornar o troco, caso alguém tivesse interesse em adquirir o meu livro, com uma nota de cem reais, por exemplo. Poderia aceitar cheque ou dinheiro, mas apenas duas pessoas olharam capa e contracapa de meu livro e se voltaram para a autora famosa.
Minha colega começou rir e lhe dei sinal para que parasse, pois minhas gargalhadas são, estupidamente, escandalosas: chamariam muito a atenção... Não era o momento! Seria total falta de “etiqueta”!
Como se não bastasse, ela sinalizava com a mão, para que me aproximasse mais da “consagrada” e sorrisse, com aspecto de naturalidade, fingindo-me de íntima. Ah, não! Aquilo era demais! Hora de ir embora!
“Fique, mais um pouco, Mirian! Quero tirar uma foto bem legal, para você levar!”
Ah, meu Deus! Por que não saí no impulso?
Nesse momento, uma senhora olhou para mim, com um aspecto interrogativo, e perguntou se eu era vendedora... se sabia o preço do livro “tal” da autora consagrada!
“Desculpe-me, senhora, eu não sei, mas se você perguntar para o rapaz com a máquina de cartão, ele saberá responder!”
“Obrigada, então!” - e colocou sua enorme bolsa, em cima de meus livros que se encontravam em forma de leque, na mesa.
“Que difícil achar este cartão, meu Deus!” Sondou a bolsa toda por dentro, desmanchando o meu leque.
Nesse momento, minha colega já estava rindo muito e eu me encontrava com uma feição tão desanimada, que ela decidiu tirar a última foto, pois, realmente, a hora era de partir.
Graças a Deus, a senhora encontrou o cartão, comprou o livro e tirou a bolsa de cima dos meus “pobrezinhos”, mas belos livros, porque a idealizadora do projeto gráfico é excelente artística plástica! Se não pelos versos, para alguns... pelo menos, pela designer, o livro é maravilhoso!
Espere lá! E a autoestima? ... Meu livro estava bonito demais, para ficar embaixo daquela bolsa enorme.
Nesse momento, sorri com gosto, quase gargalhei, e minha colega conseguiu a tão sonhada fotografia.
Ufa! Nada vendi, mas a situação me rendeu esta crônica e me dou por satisfeita!
Quanto à situação... só rindo! Pensam que a vida de autora iniciante é fácil? Não é “mole”, não, meu amigo!