Boa Noite!
Noite: esta que se instala de mansinho sobre o céu caprichoso, após os dias de azul cerúleo e que se repetem nas quatro estações. Quatro estações de Vivaldi, de calor, frio, flores e brotos.
Ela, dominada pela lua e cheia de verão, vai somando dias, contando anos, vigiando nossas vidas, guardando segredos contados entre agulhas e linhas que vão cosendo, no verão, longas mantas, tal qual Penélope - mitologia grega – a tecer um manto durante o dia a espera de Ulisses e à noite, secretamente, ela o desmanchava.
Noites: mil e umas, umas mil. Chega o inverno, muda-se o clima. Muda-se tudo, como nos explicou Camões, toda a vida é feita de mudanças:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”.
E com a manta do verão, cobrimos nossos corpos, açoitados por ventanias atrevidas, frias e caprichosas.
Caem às folhas, surgem novos brotos e a lua emerge. São tantas fases que vão e que vêm adornadas de luas cheias, minguantes, crescentes e novas.
É tão bela a manta, as agulhas, linhas, monstros e moinhos. Ah! E o crepúsculo: luminosidade de intensidade crescente ao amanhecer e decrescente ao anoitecer.
É tão lindo o brilho do teu olhar, a seguir meus lábios à medida que, inibidos, se movem para lhe contar uma pequena história ocorrida ontem. Um fato tão banal, tão corriqueiro como o padeiro a assar o pão, a mãe a amamentar o bebê. A mulher que coa o café para o marido, o filho que parte acenando para a família.
Assim, a noite chega. Abro a porta. Acendo a luz do hall e sinto o cheiro da comida que vem lá da cozinha.
Aroma acompanhando de todos os dias.
- Boa Noite! – voz do meu bem, tendo como cúmplice o sorriso juvenil da minha flor esperança.
Sim! Aqui está tudo bem. Eis a noite a servir-me afeto.
Boa Noite para todos vocês.