Bolinhas de Gude x Valores - por Margarida Lorena Zago

Bolinhas de Gude x Valores

(Lorena Zago)

 

         Mês de setembro! A natureza emitindo um cenário de harmonia, aromas, flores e cores.

         O passaredo feliz, cantando aos quatro pontos cardeais.

         As laranjeiras exalando o perfume adocicado  de suas flores, convidando os colibris e beija-flores, a lhe colher o néctar.

         O céu de um azul límpido, cristalino e inspirador,  levando todos os seres a inebriarem-se do seu sorriso acolhedor e singular.

         A alegria se instaurando e tomando conta de cada Ser, do micro e macro universo.

         Dirigindo a atenção para a Escola EB. Pedro Silveira se percebe que todos os atores da educação, manifestam-se alegres, ativos, agitados, com vontade de transgredir a disciplina conteudista, que lhes é incutida, como sendo a ideal. Nota-se nitidamente que a primavera chegou, convidando a sair do ostracismo, no qual, o inverno havia enclausurado a todos, por seus dias e noites de frio cortante.

         Dona Maria, professora de Ciências e Educação Artística, está preocupada com seus alunos da 5ª série, pois, com o advento da primavera, com seus dias ensolarados, também enalteceu a vontade dos alunos a trazerem  suas latinhas de bolinhas de gude, para jogarem na hora do recreio.

         Mas as tais bolinhas de gude, começaram a trazer transtornos, durante as aulas.

         Ora as latas caíam, ora eram bolinhas de gude no chão, ora trocavam    entre si as bolinhas que tinham como pecas ( especiais), ora brigavam porque algum amigo mexia na latinha de bolinhas do vizinho de classe, cadeiras e carteiras eram arrastadas a cada  segundo, para ajuntarem as bolinhas caídas no chão.

         Era uma verdadeira bagunça, impossível de se ministrar aulas.

         A folia era constante, isso não contando com as inúmeras chamadas:

- Professora, olha o Pedro!

-Professora, não fui eu, foi o João!

-Professora, a Larissa tomou minhas bolinhas de gude preferidas!

         As aulas estavam ficando insuportáveis.

         Dona Maria, refletiu muito, e prometeu a si mesma, tomar uma atitude para acalmar o clima e poder ministrar suas aulas.

         Foi para casa e pensou em inúmeras alternativas, para negociar com seus alunos, num diálogo aberto, com perguntas, ideias, e trocas.

         No dia seguinte, voltou àquelas salas de aula, com outro olhar e compreensão, para com as polêmicas bolinhas de gude, que não queriam ficar quietas em suas latas.

         Pediu aos alunos que fizessem um grande círculo, para conversarem e resolverem em parceria, o assunto incômodo, em sala de aula.

         Dona Maria esclareceu-os sobre o tema a ser tratado, e pediu que cada um pensasse numa solução.

         Aproximadamente uns quinze alunos se pronunciaram, outros preferiram ouvir. Após ouvi-los, dona Maria, socializou sua opinião e junto com os alunos traçou algumas metas e objetivos.

         As metas diziam respeito à disciplina, atenção, aprendizagem e respeito em sala de aula.

         Ficou acordado, de bom grado, de que, todos os que possuíssem latas com bolinhas de gude, guardá-las-iam, durante as aulas, sobre a mesa da professora. Logo que batesse o sinal, para o término das aulas, poderiam recolhê-las e brincar na hora do recreio.

         Dona Maria, felicíssima com a concordância dos alunos, disse-lhes que haveria uma surpresa, ao final de uma semana,  de aulas mediadas e assistidas com interesse e aprendizagem.

         Assim sendo, após uma semana de paz e intervenções positivas, os alunos cobraram de dona Maria, a surpresa.

         Esta não deixou por menos. Falou-lhes que na próxima aula de Educação Artística, iriam jogar bolinhas de gude, no pátio da escola, que ficava um pouco retirado das outras salas, evitando assim, o barulho para os outros alunos, que estavam em aulas naqueles momentos.

 

         E, finalmente chegou o tão esperado dia:

         Mas, antes de saírem para os jogos, dona Maria elencou alguns objetivos no quadro, dos quais os alunos ficaram cientes e compreendendo-os concordaram:

Objetivos traçados:

- Escolher os líderes, para formar as equipes de jogo,

- Respeito mútuo,

- Disciplina,

- Ajuda aos que não sabiam jogar corretamente,

- Saber escolher as equipes de acordo com as necessidades de aprendizagem,

- Saber ganhar e saber perder, sem causar discussão,

- Formar equipes de apoio, para os jogos e respectivamente aos colegas em sala de aula, quando se fizesse necessário, durante os momentos de aprendizagens,

- Saber manter a organização em sala de aula,

- Dizer-se e saber ouvir,

         Todos foram aos jogos, inclusive dona Maria, que participou com a ajuda dos mais entendidos de sua equipe.

         A aprendizagem foi grande e recíproca. Passaram momentos maravilhosos, durante os jogos e após também.

         Ao voltarem para sala de aula, ficou combinado de que na próxima aula fariam o feedback dos momentos vivenciados.

         E, foi riquíssima a rodada de conceitos expressados pelos alunos e professora. O melhor de todos, foi a confiança mútua.

         Para a surpresa de dona Maria, os alunos indisciplinados de antes, estavam orgulhosos e felizes, por poderem ensinar e ajudar os outros alunos, que até então, sabiam-se os mais inteligentes.

         Desde este dia em diante, as aulas foram muito proveitosas e a mediação dos conteúdos, bastante significativa e prazerosa.

 

         Os valores enalteceram-se, sendo vistos e sentidos de forma  clara e objetiva por todos.

         Que saudades das 5ª séries!

         Quanto conhecimento, ali produzido e compartilhado!

 

“Quem projeta as suas ações em bases sólidas,

edifica construções de conhecimento, em que se

vivenciam aprendizagens, com valores

significativos e prazerosos.

 

(Margarida Lorena Zago)

 

 

 

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