Breves palavras sobre a linguagem e a importância da oralidade
O interesse pelo estudo sistemático da linguagem vem desde a Antiguidade clássica, na Grécia, no interior da Filosofia com Platão e Aristóteles. Na Idade Moderna, o estudo da linguagem instala-se a partir do início do século XIX, com a Linguística Comparativa, que estudava as diferenças na linguagem humana entre os povos e em comparação com a de outras espécies animais.
Segundo Ong (1998, p.45) “[...] a sociedade humana primeiramente se formou com a ajuda do discurso oral, tornando-se letrada muito mais tarde em sua história, e inicialmente apenas em certos grupos”. Mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação humana: por meio dela, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria exercitar a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não preexistem à fala.
Há um consenso entre os estudiosos da análise da conversação de que as pesquisas acerca da oralidade devem considerar os fatores dos diversos contextos sócio-culturais em que se encontram os falantes. Neste sentido, partindo do referido viés teórico, focaliza-se a linguagem em seu uso nas diversas situações de interação social. Neste mesmo direcionamento, deve-se considerar o fato das condições de produção do discurso serem influenciadas pelo contexto sócio-histórico e pelas ideologias, responsáveis pelo estabelecimento das relações de força no interior do discurso. De acordo com Bakhtin (2002, p.124), “a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta”.
É comum acreditar que o desenvolvimento da capacidade de expressão oral seja atribuição única da família, mas deve-se observar as inúmeras possibilidades de aproveitamento da fala em sala de aula ou fora dela. O exercício do falar deve ser o alicerce da construção de conteúdos significativos para os alunos, pois como dizia Freire (1993, p. 41), “a leitura do mundo precede à leitura da palavra”. Assim, mantendo um diálogo em sala de aula e buscando compreender o mundo ao seu redor de maneira eficaz, os alunos desenvolvem concomitantemente uma melhoria na auto-estima, na segurança, na fluência verbal, no espírito cientifico, bem como aprende a colocar suas opiniões frente aos outros.
Todavia, apesar de ser altamente proveitosa a dialogicidade em sala de aula, por permitir troca de informações e o confronto de opiniões, se a intenção do professor for tornar o aluno um usuário competente da linguagem no exercício da cidadania, isso não será suficiente. Essa interação dialógica que ocorre durante as aulas não dá conta das múltiplas exigências que os gêneros do oral colocam.
O ensino da oralidade é uma perspectiva bastante interessante, pois, permite ao professor um estudo mais atraente e dinâmico de língua materna, a qual possibilita contato com diferentes situações de interação comunicativa.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1993.
ONG, W. Oralidade da linguagem. In: Oralidade e cultura escrita. Trad. Enio A. Dotranszky. Campinas: Papirus, 1998.