CABEÇA QUENTE I
Mirian Menezes de Oliveira
A jovem senhora estava a passeio em uma cidade do interior... Uma voltinha na praça seria inevitável, para tomar um sorvete; apreciar o movimento... lembrar os velhos tempos!
A praça central sempre é o coração de uma cidade e já havia tempo, em que não passava por ali! Com certeza, o momento seria agradável!
Perfeito, exceto por um detalhe importante: o relógio da Igreja Matriz bateu as doze badaladas do meio dia e o sol estava de “rachar mamona”, como diria um “seu” conhecido.
“Vamos lá!” – pensou. “Passeio é passeio!”
Deu a primeira voltinha e observou a significativa alteração de cenário. A estátua central, representativa da grande personalidade local, havia sofrido modificações. Por sorte, retiraram os pombos que faziam ninhos na grande escultura, além de outras “sacanagens”, mas uma alteração causou estranheza: houve conversão da água da fonte, para os pés da escultura.
Isso, com certeza, não modificava o valor inestimável do monumento, entretanto constituía-se em um ponto de reflexão.
“Em tempos de AQUECIMENTO GLOBAL e efeito estufa”, mais vale uma personalidade eternizada em mármore, com os pés frescos, do que uma “reles”, desconhecida com a cabeça quente!”
Este pensamento (CLARO!) foi delírio dela e não deve ser levado em conta, nessa crônica. O passeio não deveria perder sua beleza, só porque uma frase boba, partiu de uma reflexão “ambientalista” fora de hora.
A jovem senhora continuou olhando para o monumento e, de repente, deslizou os olhos para o entorno: “As árvores diminuíram! Que pena! Há menos verde, mais pessoas... mais calçadas e mais calor...
Pressentiu que não estava bem... o calor estava insuportável (quente e seco!)... Talvez estivesse acometida por alucinações...
_Água! Água!
_Quanto custa, moço?
_Quatro reais!
_Quatro reais?! Que absurdo!
_Se a senhora quiser um preço mais em conta, é só andar uns dois quilômetros. Talvez, encontre pela metade do preço!
“CARA DE PAU!” – pensou.
_Tudo bem! Vou querer uma!
Há sempre “aliviadores de desgraças” de plantão. Basta haver turistas, ou aglomerados diferentes, em algum local, para que eles apareçam, ofertando toda espécie de mercadoria “milagrosa”.
Aquele passeio já estava começando a ficar chato, razão pela qual a moça, praticamente, esvaziou o conteúdo da garrafinha e resolveu retornar para o local, em que se encontrava instalada.
Antes disso, resolveu passar pelo caixa eletrônico, pois sempre há um disponível, ainda que no deserto.
Ao abrir a porta do banco, sentiu-se num freezer, o que muito a agradou!
Não teve pressa: efetuou o saque, solicitou o extrato de sete dias e, ainda, se encostou no balcãozinho, para verificar item por item do papelzinho. Ficou tempo suficiente para que uma velha conhecida a encontrasse:
_ Que saudades! Não a vejo há tanto tempo! Você se lembra de nossos passeios na praça?!
SIM! Ela se lembrava.
_Era muito divertido! Colocávamos as fofocas em dia!
ERA VERDADE! A jovem senhora ouvia com atenção toda a história, aproveitando-se do ar condicionado do banco, para refrescar a cabeça.
_Vamos tomar um sorvete, qualquer dia desses?
_Vamos, sim! Pode ser aqui?
_O quê? Não entendi!
_Desculpe-me! Estou tão apavorada com esse calor, que acho que não estou falando “coisa com coisa”... Vamos pensar no assunto! Prazer em revê-la!
O assunto acabou por ali.
Nossa protagonista já estava tão apegada ao ar-condicionado do banco, que nem viu que acabara de entrar no “cheque especial” (problema talvez maior!)
“Como os tempos mudam, não?! Jamais pensei que sentiria tanto prazer em olhar, minuciosamente, um extrato de banco, com saldo negativo!”
O que se passa com o planeta?
Devemos rever valores?
SIM! SEMPRE!
Enquanto isso, a escultura banhava seus pés!
Delírios da jovem senhora?!
Provavelmente... MAS...
Esta história continua...