CAMUFLAGEM
Ela trocou de roupa porque sentiu que aquela roupa não era ideal para aquele dia. Precisava de poucos detalhes e cores, uma roupa que fosse capaz de camuflar. Ninguém precisava saber que o seu estado de ânimo não estava bom, ou vestir-se de preto sinalizando a sua melancolia. Para alguns, o preto pode indicar elegância, para outros luto. Não é preciso anunciar o seu luto interior.
Decidiu trocar a vestimenta porque sabia que estava enganando a si mesma, especialmente quando se olhou no espelho e percebeu que era uma personagem no cenário errado.
No outro dia, a sensação de que errava novamente na combinação da vestimenta surgiu; então refletiu que quando comprou as roupas elas ornavam com o seu físico, eram dignas de serem admiradas. Questionava a causa do problema e qual traje seria ideal para compor os seus anseios. As cores não satisfaziam, os tecidos e as estampas também não, o que vestir?
Olhou-se novamente no espelho e verificou que a sua imagem permanecia a mesma, depois constatou que qualquer roupa que usasse não iria satisfazer o seu gosto. Porque a questão não era a roupa ou o seu corpo, mas a camuflagem ideal, aquela que não refletisse a sua confusão.
Seria preciso camuflar a sua imagem de tal maneira que nem as roupas notariam o seu disfarce, e só então se apresentaria para a sociedade.
É a nudez dos pensamentos que precisam ser resguardadas porque a abundância ou ausência de roupas em um corpo não se comparam aos pensamentos desnudos.