CAPITUVAS E HISTÓRIAS
Por Mirian Menezes de Oliveira
_ Volta aqui, moleque!
_ Tchau, mãe! Estou indo para a escola.
_ Você nem tomou café direito! Volta aqui!
_ Tchau, mãe! Olha o papai lá atrás!
_ Maria, aonde vai? Por que está correndo atrás do menino?
_ Papai, mamãe, irmão ...só porque sou menorzinha, vocês estão me deixando para trás?!
Diálogos...
Diálogos...
Diálogos...
Diálogos travados à beira do Paraíba!
Sentávamos em banquinhos espalhados pelo calçadão, para inventarmos histórias... Não encenávamos, nem brincávamos com fantoches... As personagens eram criadas, sob medida, para as capituvas: plantas aquáticas que, às vezes, causam certos transtornos... Mas esta é outra história!
As capituvas corriam rio abaixo, por ocasião das cheias e, naquela época, não refletíamos sobre o que havia por trás de tudo aquilo. Na verdade, a geração que nos antecedeu já jogava muito lixo no pobre rio, entretanto aquele verde, para nós, representava apenas encantamento... Eram plantas sobreviventes que nos rendiam histórias. Jamais poderíamos enxergá-las como plantas indicativas do nível de sujeira.
Além do mais, não conhecíamos o nome daquelas plantas, muito menos compreendíamos que representavam um “descompasso” entre o homem e a natureza. Para nós, as capituvas eram apenas plantas aquáticas “corajosas”, que sobreviviam ao lixo atirado porseres humanos mal educados. O verde enfeitava o rio.
Interessante recordar-me disso agora!
Quando discorremos sobre a grandiosidade de pequenos acontecimentos da vida, compreendemos que, realmente, a felicidade se encontra nos minúsculos e bem vividos momentos.
Quanto menor e mais delicado for o ato, MELHOR e, se foi vivido na infância, então... a magia aumenta!
Com certeza, esta não é a primeira vez, que escrevo sobre um fato passado, relatando, com imensa saudade, “coisinhas” que não se esquece.
Se esses eventosainda estão vivos na memória, é porque foram importantes demais e terão vida eterna no coração e nos pensamentos! Fatos como essessão regidos por Kairós, sempre!
De que falo, então?!
Falo de um tempo gostoso...
Éramos muito jovens e, todos os dias, na saída da escola, comprávamos um pacote de Fandangos, às custas das curtas mesadinhas recebidas. A partir daí... era dar uma voltinha, primeiro, pela praça e, logo após, caminhar às margens do Rio Paraíba... “Salgadinhos” e histórias eram divididos...
Margaret e Marzelha:amigas especiais! Eram daquelas espécies raras (cúmplices e fiéis, na alegria e na tristeza).
Que saudade!
Histórias e mais histórias, criadas na própria História...
Narradoras e personagens... Histórias que não tem fim...