CARLOS ARINTO - ENTREVISTADO

CARLOS ARINTO - ENTREVISTADO

Em entrevista, autor português gera polêmica e divide opiniões

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

 

Carlos Arinto, é natural da beira-serra, no interior de Portugal.

Sempre escreveu e sempre foi mentiroso, porque a escrita é a arte de dizer mentiras com a verdade e a seriedade do que foi, do que poderia ter sido, do que inventamos e do que gostaríamos que tivesse sido.

Poemas de juventude, crônicas e opiniões nos jornais e participação em alguns projectos coletivos. Como não é possível viver da escrita, fui percorrendo os caminhos da marginalidade sem dar nas vistas. Não foi à televisão, não vou às feiras dos livros, não dou autógrafos, não ando em encontros de escritores e não frequento outros agentes patogénicos.

Não sou náufrago nem eremita. Faço o que gosto e o que quero e vivo bem com a escrita que alguns gostam, outros detestam e a maioria ignora. É a vida! Espero ser famoso daqui a duzentos anos, preparem-se para o meu aniversário.

Actualmente sou gestor de uma associação cultural e de uma associação de prestação de cuidados sociais a idosos. A minha verdade: misturar os jovens com os velhos, criar o belo, construir um futuro com mais capacidades de deslumbramento.

 

Portugal está cheio de prémios literários, das autarquias, ao governo, aos casinos, aos comemorativos, aos livreiros. Ganham os juris, ganham as editoras, ganham as notícias (quando as há) só não ganha o autor que continua a ser dispensável.

Fico feliz por não estar contaminado com “prémios”.

 

Boa Leitura!

 

Carlos Arinto, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, como se deu o início e desenvolvimento da escrita em sua carreira literária?

Carlos Arinto - Todos nascemos com uma tendência, um gosto especial para uma arte. (o desenho, a pintura, a escultura, o contar de uma história, a fotografia, a caricatura, etc) De entre as diversas artes aquela que sempre me apaixonou foi a escrita. Desde muito novo escrevi contos, poemas e pequenos apontamentos de que nem nem sei catalogar a espécie ou onde enquadrar…eram apenas palavras rupestres. Depois fiz jornalismo e crónicas e artigos de opinião. E o tempo foi correndo…

 

O que mais o atrai nos contos?

Carlos Arinto - O espaço curto em que o leitor (e o escritor) se espraiem. A forma como nasce, evolui e se mostra, para depois (de um sempre desejado pico de elevação (êxtase) e suspense ou curiosidade)  terminar, cortando o mal pela raiz, caindo abruptamente ou  deixando em suspensa a conclusão e o defecho colocando um ponto final no assunto (subjectivo e discutivel)

Também por preguiça, por comodismo. Um romance é uma coisa que “nunca mais acaba” por vezes com repetições e mais repetições, com voltas rebuscadas para agarrar o leitor…uma chatice.

 

Apresente-nos os livros de contos publicados

Carlos Arinto - “As máscaras do amor”, “Nevoeiro Cerrado”, “Contos, que eu te conto”, “Muxarabiés e Treliças”, “Xillella”.

Estes livros são constituídos por contos, por isso é impossível dar um resumo de cada. Cada conto é autónomo e o tema diversificado. Se um leitor não gosta de um assunto, passa à frente e vai ler o conto seguinte. Ler sem cansar. Fazer pensar em situações pouco comuns, emocionar-se com situações e acontecimentos universais e eternos.

A titulo de exemplo Xillella são 50 contos, a que acrescentei mais dez. Sessenta, portanto. Contos rápidos, outros não tanto.Do crime à ficção cientifica.

As máscaras do amor são uma dissecação das relações entre pessoas, onde o epicentro é o amor entre sexos diferentes,  constituído por pequenos fragmentos, que no fundo fazem um todo. Um mosaico, se quisermos, um puzzle, se desejarmos, um exorcismo do amor: do encontro à dispersão, ao reencontro, ao desejo à relação.

 

Onde podemos comprar os seus livros?

Carlos Arinto - Pois é o mercado livreiro é um bonito sarilho. Na Amazon, na Bubock e na Book Mundo. Três editoras independentes, internacionais e que não escondem os livros nos armazéns.

 

Além dos livros de Contos você tem outros livros solo. Apresente-nos, os títulos e segmentos dos livros publicados.

Ruptura na Abastecimento: um romance sobre a solidão e o interior de Portugal.

“ Águias e Tarantalhões”:  um romance sobre a guerra colonial portuguesa.

As dolinas do meu parafuso: um conto, quase romance sobre ecologia e o verde.

Gárgulas e Gargantilhas: poesia

Quarentena: poesia

Relato de conhecimento: Apresentação e abordagens das sociedades secretas

Estranhos Encontros: erotismo

 

 

Estão “na moda” as antologias. Participou em alguma?

Carlos Arinto - Sim, em 50. Mas hoje não me interessa. È uma forma de os editores ganharem dinheiro, nada mais. Aproveito para deixar aqui a minha homenagem ao Isidro de Sousa, recentemente falecido, o pioneirismo das antologias com qualidade e honestidade em Portugal.

 

E cursos de “escrita criativa”? Em quantos participou?

Carlos Arinto - Em nenhum. Portugal está cheio de gurus da escrita. Não creio que seja o caminho para aprender a fazer literatura, seja ela conto, novela, romance ou poesia. Infelizmente, Portugal está também cheio de vazios que fabricam legiões de adeptos e seguidores.

 

Não me diga que não tem fãns?

Carlos Arinto - Não! Deus tem sido bom comigo, nem fans, nem adeptos e muito menos seguidores, não estou interessado em fundar uma nova corrente espiritual que leia os meus livros.

Com um grupo de amigos autores fundámos um grupo denominado “Pentautores”, porque somos cinco. Temos abordado os grandes temas do mundo como a morte, o além, a herença, etc utilizando o argumentário e processo critivo da Biblia: um facto>cinco olhares.

 

E prêmios? Tem tido êxito nesta competição?

Carlos Arinto - Nunca fui premiado. Não acho que isso seja mérito, serve, “apenas” para colocar um círculo colorido na capa e vender livros. (para além do valor pecuniário do prémio)

Pessoas que escrevem um livro e ganham um prémio, pessoas que escrevem barbaridades e ninguém lê, mas ganham prémios. Pessoas que a história não recordará, mesmo quando se vai ao fundo da panela buscar os mais obscuro escrevinhadores que colecionaram prémios.

Portugal está cheio de prémios literários, das autarquias, ao governo, aos casinos, aos comemorativos, aos livreiros. Ganham os juris, ganham as editoras, ganham as noticias (quando as há) só não ganha o autor que continua a ser dispensável.

Fico feliz por não estar contaminado com “prémios”.

 

Afinal a escrita o que é?

Carlos Arinto - A arte através da palavra.

 

E um escritor, como o define?

Carlos Arinto - Não é certamente alguém que um dia escreveu um livro. Um escritor é aquele que escreve, com disciplina, com objectivos, com ideias e com persistencia e perseverança. Alguém que analisa o mundo e traça o retrato psicológico da época e lugar em que vive, passeando pelos temas uniersais e globais.

Não há nada de novo para escrever. Repetece o que já dito um milhão de vezes, só que de forma diferente e actualizada: crime, amor, jogos, aventuras, violência doméstica, poder, orgulho, traições, conquistas, guerras, concubinato, incesto, solidão, obediência, revolta, prisão, liberdade, revoluções, …. morte.

 

E a literatura, hoje?

Carlos Arinto - Estamos a construir o “novo normal”. Muita gente escreve (eu diria que “toda a gente” escreve) Existem autores muito bons. Excelentes e de superior qualidade criativa. Outros ainda estarão a dar os primeiros passos dessa nova realidade, mas o que sabemos é que os enfatuados académicos que nada acrescentam, embora escrevam muito bem, de acordo com todas as regras gráficas e preceitos das gramáticas e dos acordos ortográficos…esses… só alimentam os críticos que os endeusam, mas são nados mortos, peças decorativas, escritores da moda, pulgas que se julgam elefantes. O tempo fará a selecção natural.

 

Quais os seus próximos projetos literários?

Carlos Arinto - Não tenho. Não sou arquiteto e o projeto de escrita é um parto doloroso. Gostaria de escrever aquilo que os leitores gostassem de ler, mas…como saber o que um leitor quer? Então escreverei o que me fizer pensar que estou a psicoterapiar a minha condição de autor. Os grandes temas do universo, e a razão porque afinal – parece – que estamos aqui. Como todo o acto criativo, começa-se a escrever e depois o que antes não existia, surge e afirma-se! O interessante da vida é que nunca sabemos o amanhã.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Carlos Arinto. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Carlos Arinto - Leiam os livros, e opinem. Discordem, apoiem ou revoltem-se. Nunca fiquem indiferentes. Seria interessante haver acordos de colaboração entre autores portugueses e brasileiros, que escrevendo na mesma língua, o fazem de forma tão diferente.

 

 

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