Casamento Matuto – de Verdade - Por Silva Neto
Continuação...
Enfim, adentram a Igreja. Mas, antes de entrar, Zé manda um recado ao bando: — Espere, viu? — “Deixe eu sair da cerimônia!” — “Vou pegar um a um e capar (castrar) como se capa um bode!” Tirando as pedras do bolso e colocando-as a um canto da Igreja, Zé segura a mão da noiva e segue em frente para o altar. Enquanto os maloqueiros os esperam do lado de fora pendurados nas janelas da Igreja, _ Viva os noivos matutos!...
...As loucuras do Zé continuaram após a cerimônia do seu casamento. Ao sair da Igreja, de mãos dadas com sua esposa, uma multidão os aguardava do lado de fora. Eram curiosos como eu e toda aquela gente vinda das redondezas daquela pequena cidade. Logo a pracinha ficou lotada para dá os cumprimentos ao novo casal, bem como, protestar contra aquele tremendo bullying em cima da comitiva matuta. Zé, embora mais descontraído, prevenia-se contra as investidas daqueles maloqueiros, mesmo porque, agora, seria o desfecho daquela zorra total. Colocou de volta as pedras nos bolsos, mesmo se opondo ao veemente pedido de Maria, sua mulher:
—“Zé,... Agora samo casado!”... — “Nun dá uvido pro que eles fala!” —“Agora samo marido e mulé!”. — “Cria jeito, home!”.
— “Se avexe não, Maria!”.
— “Eu só quero é pegar um condenado desse pra mostrar o que um home faz”!
Que clima esse de final de casamento matuto?! Por outro lado, as notícias espalhavam-se rápidas, mais e mais gente chegava tomando à defesa dos noivos.
— Viva os noivos! Todos aclamavam, agora sem a conotação galhofa dos incautos predadores dos costumes simples do homem da roça.
Eles, os maloqueiros, finalmente, deixaram a comitiva em paz. O delegado foi chamado. Com o seu notável esquadrão de dois soldados, dispersaram os indesejáveis meliantes.
E o noivo, agora casado, onde estaria? Zé saiu de fininho entre a multidão com os bolsos cheios. Ao lado dos soldados atirava pedras para todos os lados, deixando Maria aflita...
Aflita? Maria se esbaldava em charme entre a multidão, sendo cumprimentada pela nata da nobreza da cidade. Quando lhe perguntava sobre o Zé, o noivo, ela lhes respondia com sorriso nos lábios e voz desafinada:
—“Se avexe não, meu povo!”— “Zé tá fazendo seu servicin de cabra macho!”.
Você, amigo leitor, ainda duvida que dessas histórias verídicas surgissem os casamentos matutos de nossas quadrilhas de São João?
Viva os Noivos! Kkkkk!