Claúdia Gomes - Entrevistada

Claúdia Gomes - Entrevistada

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

 

Cláudia Gomes, soteropolitana, poetisa, pesquisadora e professora do ensino básico das redes municipal e estadual. Radicada em Feira de Santana, Bahia, desenvolveu o amor às letras desde adolescente. Mestra em Letras pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Campus V). Graduada em Letras Vernáculas (UEFS). Especializada em Língua Portuguesa (UEFS) e em Gestão Escolar (UFBA). Tem três filhos os quais foram criados ouvindo poesias e músicas de grandes mestres da nossa música brasileira. Busca inspiração nas coisas simples da vida, nos sentimentos que brotam do seu ser. É mulher de sonhos, mas que, através das leituras, conseguiu realizar-se em sua plenitude.

 

“Esse poema é o meu fazer poético, pois para mim, o momento da escrita é mágico e único, é revelador, e mesmo que eu finja uma dor (ou alegria), ela, com certeza, está em algum pedacinho do meu ser e me inspira no ato da escrita.”

 

Boa leitura!

 

Escritora Cláudia Gomes, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor – especial Mulherio das Letras. Conte-nos, o que a motivou a ter gosto pela arte de escrever?

Claúdia Gomes - Gostaria, antes de tudo, agradecer a oportunidade de falar um pouco sobre o meu trabalho, sobre a minha escrita para essa revista tão importante. Uma honra para mim. Lembro-me que, ainda no Ensino Fundamental, deveria ter uns catorze anos, gostava de “inventar” histórias românticas e as escrevia em um caderno pequeno. Escrevia à mão aquelas mais de cinquenta páginas em branco. Quando eu terminava, eu oferecia às minhas amigas para que pudessem ler. Elas sempre gostavam daquelas histórias e isso foi crescendo em mim. No entanto, eram as poesias que mais me fascinavam. Sempre escrevi versos nos meus cadernos escolares, alguns de autores consagrados, outros, de autoria. Assim, escolhi o curso de Letras justamente porque queria ser escritora, porque queria tirar dos cadernos amarelados meus delírios em versos.

 

Em que momento se sentiu preparada para publicar o seu primeiro livro solo?

Claúdia Gomes - Sempre digo que, às vezes, só precisamos estar no lugar certo. Foi durante o curso de Mestrado que fui incentivada pela minha orientadora a publicar. Tive a oportunidade de escrever e ler para a minha turma poemas que surgiam de algum momento nosso, como o poema “As tranças de Bebel” cuja inspiração foi um relato de vida de uma colega de curso, após discussão sobre racismo. Para suprir o estresse durante esse período, eu escrevia e escrevia sobre tudo. Publiquei seis poemas na Antologia Cadernos Negros 39, foi minha primeira publicação, em 2016. Ano seguinte, foquei em Catadora de Versos e o lancei em 2018.

 

Apresente-nos “Catadora de Versos” (sinopse)

Claúdia Gomes - “Catadora de Versos” é um livro de poesias com as mais variadas temáticas. Alguns poemas inspirados em versos que fui catando através das leituras que fazia. Poetas como Conceição Evaristo, Sacolinha, Miriam Alves, Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus e tantos outros foram os percursores dessa escritora eu vos fala. São 108 páginas de devaneios e sensibilidade. No final da obra, há algumas páginas em branco para eu os leitores também possam catar os versos que mais lhe tocaram. A orelha do livro foi escrita pelo escritor Ademiro Alves, Sacolinha, de Suzano, São Paulo. Ele foi fundamental em minhas leituras sobre a literatura marginal. Já a apresentação foi escrita pela Profª. Drª. Rosemere Ferreira da Silva, pesquisadora da literatura afro-brasileira e maior incentivadora para o nascimento dessa obra.

 

Deixe para nossos leitores um dos textos poéticos publicados na obra

 

Síndrome de Estocolmo

Porque a poesia me raptou

Para um lugar

Bem perto de mim.

E fez de mim

Sua refém.

E como refém

Fui rebelde

Não a rejeitei.

Pelo contrário

Pelo inverso

Pelos versos

Foi por ela

Que me apaixonei.

E lutei

Lutei com todas as minhas forças

E a suguei.

E a usei.

E a senti...

Essa síndrome

Tão rara em mim

Possuiu-me

E me mudou.

Sou refém

E gosto disso!

Não importa a posição

Sou sua

E sempre serei.

Sou sua, poesia,

Estou aqui...

Amarre-me em seus versos

E juntos iremos seguir.

Pois sou refém

De sua linguagem

De seus suspiros

Às vezes poéticos

Às vezes não,

Mas estou presa

Às metáforas que me oferece

Aos paradoxos que me enlouquem

E me desnudam

Tiram-me o fôlego das etiquetas

Que rotulam

Que excluem

Que silenciam!

Sou sua refém, poesia

E para ti serei eternamente

Enquanto minhas mãos

Marcarem a sua voz em mim,

Sou sua

Sua refém

Refém

Efém

Fém

Em

MIM.

 

Sabemos que cada texto tem um pedacinho da autora. Conte-nos, sobre a criação deste texto.

Claúdia Gomes - “Síndrome de Estocolmo” é um poema que revela como fui conquistada pelo fazer poético. Gostar de escrever, gostar de poesia é lutar com as palavras, e é uma luta vã como dizia Drummond.  Sinto-me “raptada” e como o próprio título diz pelo raptor me apaixonei. Esse poema é o meu fazer poético, pois para mim, o momento da escrita é mágico e único, é revelador, e mesmo que eu finja uma dor (ou alegria), ela, com certeza, está em algum pedacinho do meu ser e me inspira no ato da escrita

 

Onde podemos comprar o seu livro?

Claúdia Gomes - Catadora de Versos pode ser adquirido pelo e-mail rical_fsa@yyahoo.com.br ou pelo  Instagram  claudia_gomes_poeta

Agridoce Loja de Colaborativa (Av. João Durval Carneiro nº2881, Feira de Santana, Bahia.

 

Quais os seus principais objetivos como escritora?

Claúdia Gomes - Primeiramente ter voz na sociedade, e a escrita literária nos permite isso. Escrever meus sonhos, minhas lutas e conquistas como mulher solteira que criou três filhos praticamente sozinha com um salário de professora de escola básica, devanear, abordar nossa sociedade e mostrá-la através do texto poético e principalmente ter com quem conversar, pois a literatura é uma amiga, uma companheira inseparável. Também tenho a escrita como lazer, pois me sinto extremamente feliz ao escrever.  

 

Você trabalha com pesquisa em literatura afro-brasileira. O que mais tem chamado a sua atenção ao realizar este trabalho? Apresente-nos este projeto.

Claúdia Gomes - O foco principal em minhas aulas sempre foi envolver diretamente os educandos no universo literário. No entanto, nas turmas do EF II, as atividades com as literaturas não aconteciam de forma satisfatória. Mesmo havendo projetos de leitura, muitos educandos chegam ao 9º (nono) ano com algumas dificuldades de compreensão e/ou com desinteresse pela leitura. Temas como amor, bullying e drogas são os mais trabalhados em sala de aula. Entretanto, esses temas, muitas vezes, não retratavam as experiências de vida dos educandos e, por isso, as leituras não adquiriam significados mais satisfatórios para eles.  Assim, foi a partir desses problemas que comecei a me questionar se o que levava para a sala de aula condiziam com a vida dos adolescentes. De que maneira o trabalho com as literaturas podia representar os educandos de forma significativa e efetiva, levando-os a refletirem sobre quem são e o que querem do mundo? Como elevar a autoestima dos meus educandos por meio da literatura? E as personagens das histórias poderiam ser reais? Pensando na Lei 10.639/2003(BRASIL, 1996), lancei para meus alunos o Projeto “Enleituramento do texto afro-brasileiro: experiências com os contos dos Cadernos Negros em sala de aula”. Através desse projeto, o texto afro-brasileiro em sala de aula foi um fio condutor de ideias construídas e desenvolvidas ao trabalharmos com seis contos da série Cadernos Negros. A cada conto lido, reflexão, troca de experiências, analogias com suas vivências, produção. É evidente que a Literatura afro-brasileira vem revelando mudanças significativas quanto aos temas abordados, apresentando textos que possibilitam discussões acerca de gênero, raça, cultura e, principalmente, aceitação e formação da identidade, do sentimento de pertencimento de um povo que foi historicamente silenciado. Ao lado dos cânones, da literatura já consagrada, insiro a Literatura Afro-brasileira em todas as minhas turmas.

 

Está é uma edição especial para o Mulherio das Letras. Você que é um membro ativo, participativo, conte-nos, como você vê a literatura feminina.

Claúdia Gomes - A literatura feminina é a voz que ecoa na literatura brasileira, mas sabemos que nem sempre nós, mulheres, tivemos espaço nesse campo. Quando falo sobre a literatura feminina, penso sempre em Carolina Maria de Jesus que teve tudo para ser excluída socialmente, mas que acreditou que tinha muito para falar e falou. Para mim, ao lado de outras grandes mulheres escritoras como Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Miriam Alves, Adélia Prado, Clarice Lispector dentre outras, ela é um ícone da nossa literatura. Aproveito aqui a oportunidade para falar sobre a antologia Mulher Poesia, pela editora Cogito, de Salvador. Aqui, vozes femininas são reveladas e ganham espaços, discutimos sobre temas variados, sobre o que nos inquietam. Damos vez a nossa voz.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Cláudia Gomes. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor – especial Mulherio das Letras. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Claúdia Gomes - Como escritora e professora de Literatura sempre digo que a leitura nos transporta, não só para as estrelas da nossa imaginação, mas nos transporta para dentro de nós mesmos, revelando-nos. Ler é empoderar-se, é enleiturar-se de ideias, e nos possibilita desalienar-se de um mundo que, na maioria das vezes, é excludente. Portanto, desenvolver o hábito da leitura é antes de tudo, um ato de amor com você mesmo, pois ela é uma oportunidade ímpar de sair do lugar-comum para um lugar onde o sujeito se encontre e se reencontre. Desde já, agradeço essa oportunidade ímpar.

 

 

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