Constatações
Eu pedi tanto a essa minha vida...
Queria manhãs de sol douradas
Enquanto eu ia deixando de lado
A minha íntima e inocente criança
Tão só e triste, quanto confundida.
Ia crescendo sonhadora e delirante
Enquanto ela me esganava enfurecida
Matando o meu sonho murmurante
Imprensado entre as paredes do meu espanto.
Eu me fazia cada vez mais ser inquietante
Escondendo-me dentro de mim, perdida,
No quarto escuro do meu canto.
E assim me vesti de força e de coragem
Para ser só uma mulher pura e comedida
Em um mundo cruel e sem medida
Onde os meus risos morreram de dor.
Hoje, não sou mais que aquela da infância,
E mesmo carregando a outra que em mim brotou
Trago as duas no mesmo coração palpitante.
A mágoa eu esqueci guardada
Para ela não gritar na minha cara – Oh que temor!
A tortura do meu amargo conto, sem fada.
Escolhi para mim outro mundo – O que tenho vivido.
Nele guardo qualquer bem aventurança
Aprendi a dizer coisas de amantes
Tenho uma boca de pluma que me toca o ouvido
E faz dos meus dias e noites um doce abrigo.
Agora, sem regressos ao passado e ao desamor.
Vivo onde não há aflições nem a palavra calada,
Mas o ruído inquietante e alegre dos sorrisos...
E sou o máximo dessa mulher
ungida pelo amor e pela vida moldada!
Lígia Beltrão