Da Raiz (transparências) - Poesia – Palimage, Edições Terra Ocre
Nota Prévia
“Du coup, ma pure option ne m’élevait au-dessus de personne: sans équipement, sans outillage je me suis mis tout entier à l’oeuvre pour me sauver tout entier”
Jean-Paul Sartre (in Les mots)
Siderada pela magia que transcende o entendimento comum, solto a raiz, ganho asas e enceto o voo. Sigo a evasão dos pássaros no murmúrio dos riachos…
Retornada, mergulhar os pés em terra fresca e dela registar trepidações, significa a catarse…
Depois, como se a genética e a comunhão regular com os elementos naturais me aprisionassem os sentidos, retomo as águas, desfraldo velas, preencho vazios e entrego-os às profundezas de todas as correntes a crescer, revoltas, dentro de mim. Sigo-as e invoco vontades alicerçadas num contínuo explanar de palavras que a natureza impõe à raiz…
Fragmentada em cristais de salitre ou jorrando caudais doces, desta simbiose, emerge a libertação de um íntimo múltiplo que em ciclos e registos aquosos se perpetua…
E numa elevação de louvor à Magna Geo se agitam todas as marés nos espelhos metafóricos em que me revejo.
Ecos transcendentes, pacíficos, aguerridos, intemporais, acordam desertos e lacunas afetivas que depois repousam em areias sublimadas.
Escavo o âmago. Arrasto à superfície da pele as palavras que me trazem a escrita sofrida, contaminada pela aspereza dos cardos…
Desta inquietação, ocorre o desejo de partilhar estados de alma e de água, sombrios ou transparentes, que me permitam soltar peias e grilhões, num todo, da humanidade…
Como à nascente… borbulhares de gotas livres resgatam raízes nas memórias inoculadas.
Assim, de mim primeiro.
Da água e da terra para vós, por inteiro.
E depois… o retomar do voo.