DEPOIS DO PRÊMIO
Você conhece alguém que já ganhou na loto? Ou melhor, permaneceu amigo dessa pessoa?
O fato ocorreu há muitos anos. Os moradores ficaram surpresos com um potente carro cinza estacionado em frente à casa vizinha. Depois soubemos que a sorte bateu à porta daquela família, composta pelo casal e as duas filhas gêmeas. Os felizes ganhadores disseram que o prêmio não os tornaram ricos, mas que daria para realizar parte dos sonhos.
Nas primeiras semanas, após terem conquistado o prêmio, a vizinha conversava alegremente dizendo que finalmente iria para o interior de Minas Gerais, onde comprariam um sítio.
Os vizinhos, por sua vez, queriam saber o valor exato do prêmio, manifestando o natural sentimento de inveja.
A vizinha ganhadora do prêmio era conhecida no bairro pela humildade – repetia que nunca deixaria de visitar os amigos do bairro. “Mesmo morando longe, não deixarei de visitar a igreja e comunidade do bairro” – dizia. O estado de êxtase da família endinheirada durou uns quinzes dias.
E no dia da partida, a mulher distribuiu beijos e abraços aos vizinhos, prometendo visitá-los em breve. Ainda tinham a casa e os móveis antigos que colocariam à venda.
Meses depois, a família apareceu no bairro – já era possível perceber mudanças consideráveis nos ganhadores do prêmio, tanto na aparência como na postura. Começaram a maldizer do bairro que outrora moravam; esqueceram de alguns vizinhos. E não demorou para que a casa fosse vendida, os procedimentos fossem concluídos e a família desse adeus aquele bairro.
Ganhar um grande prêmio deve ser uma experiência única – no começo, o pobre vive a fase do sonho, acredita que a sua essência não será modificada ou que preservará as suas humildes raízes. Depois, o poder lidera o espírito e a pessoa passa a negar as coisas simples que um dia desfrutou.
Os moradores daquele bairro nunca mais tiveram notícias da família premiada, parece até que subiram numa nave espacial e partiram, Não condeno a família. Em seu lugar, eu também sumiria – não digo para uma nave, pois não aprecio o desconhecido, mas para uma bela casa de praia, sim.