Fotografia: Gimar Dueñas
Por Mirian Menezes de Oliveira
Nessa vida, não há nada melhor do que um pequeno transtorno! É isso mesmo! Transtornos são muito úteis!
Não fosse aquela tempestade toda, “Meiga” jamais agiria com tanto atrevimento, liberando (quem sabe?) um desejo inconsciente.
O tempo estava terrível: raios riscavam o céu negro, cobrindo toda a cidade. Pessoas corriam por todos os lados, tentando escapar da fúria dos céus (Opa! Isso é crônica... não filme de terror!) Bom... resumindo... qualquer pessoa, em sã consciência, não se atreveria a sair por aí, diante de tantas ameaças do céu.
“Meiga”, entretanto, deveria ir para seu doce lar, pois, como toda grávida que se preza, tinha desejos incontroláveis: desejo de ir “correndo” para casa, após o expediente, de comer salada de rosas amarelas do quintal do vizinho, acompanhada de javali e suco de pepino!
Brincadeirinha!
A verdade é que desejava chegar logo em casa, embora o caminho fosse um tanto longo!
Raios, ventania, tempestade... carros pardos e vidro imundo, totalmente embaçado. Que maçada!
Só faltava não haver flanela no carro, para que pudesse limpá-lo!
Chuva forte, congestionamento, vidro sujo, ausência de flanela...
Chovia “torrencialmente”.... (sempre quis usar essa expressão!) e nada podia enxergar.
Não pensou duas vezes: arrancou a blusa e limpou, com gosto, aquele vidro embaçado. Afinal de contas, não havia ninguém, para presenciar a cena.
Gostou da sensação! De repente, sentiu-se nua, totalmente, livre das convenções. Sentiu-se nua de corpo e de alma, num frenesi, difícil de explicar. Sentiu-se flutuante! Dirigiu sem blusa, sem nem se preocupar. Para que, blusa? O momento exigia desprendimento e pura adrenalina, pois, afinal de contas, “Meiga” conseguiu entrar em contato consigo mesma. Era livre, poderia voar, dançar... Ela era o único ser naquele momento. A tempestade era só dela. O mundo era só dela...
Raios e trovões agitavam o espaço exterior, enquanto, em seu íntimo, reinava a mais pura calmaria. “Meiga” transformou-se em sereno: conseguiu ser “Meiga” novamente. Parou em um Posto de Gasolina, conversou com o frentista, sem conseguir dimensionar seu aspecto naquele momento... Não se viu sem blusa! Só não sabemos a opinião do frentista!
O transe foi tão grande, que nossa amiga não se lembra de sua chegada em casa. Sabe Deus, com quem conversou e em que estado se encontrava. De sua mente tudo se dissipou. Era “MEIGA” e mais nada... De tanta liberdade, esqueceu-se do mundo exterior.
Também, quem se lembraria? Importa? Era ela e só...
(Esta vai para uma amiga e qualquer semelhança, não é mera coincidência!)
Publicado 04/01/2014