Desespero
Oh, Deus! Por que hás de assim testar-me?
Se desta vida desgraçada nada tenho
Dela nada quero a não ser felicidade
E nunca nada pedir-te eu venho?
Que fiz ao mundo? – Pergunto angustiada –
Choro triste com a alma torturada,
Mas ele se nega brilhando e debochado
Nada responde a esta pobre desgraçada
Hei de quebrar o espelho que se ri
E mostra-me a cara dessa alma entristecida
Quem sabe, ensanguentado, agora sim,
Ele arrependa-se de tudo o que me fez na vida!
O líquido que jorra entre brilhos de vidro
Ninguém imagina que saiu do buraco do meu peito
É do meu coração estilhaçado em mil pedaços
O sangue que escorre, sem destino, feito um rio no seu leito.
Lígia Beltrão