DESPEDIDA
Mãe,
A vida acontecia e o fogo sumia…
No teu rosto já não há o cansaço da casa,
do tempo,
da melancolia gravada em luz de prata.
Esgotaram-se as meias cerzidas ao serão,
esvaiu-se nas palavras fiadas em silêncios pela noite
engolidas nas horas duras
a guerrilheira que foste.
Parados, entreabertos à carne despedaçada e às cicatrizes,
teus olhos dizem-me tempos cruéis
lutos precoces
e o vácuo
inóspito.
Falam-me de amor
de um colo ausente.
De um oceano a nos separar.
Contigo,
na bruma esfumada,
a dor das horas aziagas,
Sepultas.
Mas nada como o teu olhar
nessa expressão nua a dizer adeus…
Já não almejas nada…
Apenas a morte que te circunda e carrega
nos gestos perdidos dos nossos abraços
nos amargos dias plúmbeos.
Como castigo,
teus olhos baços.
Conceição Oliveira
In TEMPLO de PALAVRAS 2
Antologia de Poesia e Prosa-Poética Contemporânea Portuguesa
Editorial Minerva, 2015