DEVO, NÃO NEGO
- O senhor está dizendo que não é um caloteiro?
- Caloteiro não, devedor.
- E qual a diferença? Ambos definem o indivíduo que não está em dia com as suas contas.
- É simples, caloteiro é aquele que deve sem a intenção de pagar, o que não é o meu caso.
- O senhor está me devendo há meses, e continua fazendo compras!
- Eu não podia sair daquela loja sem comprar o tênis. Estava em oferta!
- Como vai quitar todas as contas atrasadas?
- Vou pagando aos poucos. Afinal, o mundo não acaba hoje. Estou aguardando um aumento de salário. Acredito que o dinheiro extra dará para pagar as dívidas.
- Já parou para pensar que a sua situação financeira é um desastre?
- Ah, não se preocupe. Uma das minhas estratégias é me desviar das cobranças.
- É mesmo? Quer dizer que quando as cobranças se tornam constantes, você resolve fugir?
- Exatamente, também evito abrir a correspondência ou atender ao telefone quando sou chamado pelo sobrenome.
- E não se considera um caloteiro?
- Sinceramente, sempre que eu realizo uma compra, a minha intenção é pagar pelo produto, mas muitas vezes não sobra dinheiro.
- Sabe o que eu acho? Que você é ardiloso e merece receber um corretivo por isso...
Assim que chegou em casa, a mulher assustou-se com a aparência do marido.
- O que aconteceu com o seu rosto? Sofreu um acidente?
- Ah, não se preocupe querida. Estava andando na rua, tropecei e bati com o rosto na calçada.
Crônica do livro “Um pindaíba nunca está sozinho”
Publicada em 11/04/2014