DIFERENÇAS
Que me venha este olhar.
Felino ou não, mas disposto a enxergar coisas miúdas, finas, diferentes a brotar das treliças de madeiras que, pacificas, sustentam cachos fartos, ralos, graciosos, ásperos, doces, azedos, agridoces daquelas pesadas roseiras: rosas, mil tons, mas sempre rosas.
Ouvindo o vento, antônimo e sinônimo de todas as coisas, a produzir o som das violas, vozes, mares, vilões e gaiolas a bailar nas nuvens, acompanhados das estrelas: diamantes no dedo de Deus.
Que me venha este olhar certeiro, mudo, revelador, leitor das linhas das mãos - traços mal feitos - linhas apagadas a desenhar rios, corpos, que desaguam no coração.
Pedalando letras, cosendo sílabas, vivendo. Vivendo na rede farta: peixes. Olhando rios finos a se abrirem como o Tejo.
Faço-me equívocos, enganos, amor e paixão numa alma simples e mortal, repleta de ausências, encharcada de esperança, com os pés no flamenco.
Que me venham todos estes olhares feitos mãos abertas, abraços apertados, amorosos. Brilhando igualdade, fraternidade, como a lua cheia, na mais linda noite de verão.