DINHEIRO RASGADO, OPERADO E REMENDADO
Era um dinheiro imundo, desses que já havia rodado os quatro cantos do mundo. Foi rasgado, operado e remendado, ilegível para qualquer detectador de microrganismos.
A Tartaruga Marinha imprensa no dinheiro morreu contaminada por tantas bactérias e seus restos mortais eram visíveis apenas com uma lupa.
Não era possível ler a frase Banco Central do Brasil, porque as letras estavam embaralhadas. Dinheiro irreconhecível, mas reivindicado.
De valor insignificante, ainda assim, ninguém o desprezava. Seria disputado se ficasse exposto no chão.
Dinheiro detonado e que detona – remete a canção de Caetano Veloso: “Da força da grana que ergue e destrói coisas belas.” Aliás, destrói mais do que constrói.
Dinheiro suado, furtado.
Dinheiro na mão não é só vendaval; é papel nojento, imundo.
Do livro Um pindaíba nunca está sozinho