DOZE DIAS
Os olhinhos, bem abertos, pareciam fitar a janela do berçário, de onde mãe e pai a observavam.
Aquele olhar não refletia a alegria infantil, como seria natural. Traduziam, antes, certa agonia, de quem aguardava o socorro, materno e paterno.
Impossível!
Tudo que restava eram meros carinhos na recém-nascida, dentro da incubadeira, quando o ingresso no recinto finalmente se facultava. Afetos que duravam poucos minutos, simples paliativos do sofrimento mútuo.
Sorrisos e falas animadoras, a disfarçar a tristeza, na vã expectativa de animar a menina, vinda ao mundo demasiado cedo, como que ansiosa para desfrutar do lar e da família.
Sonhos de alegria que se dissolveram na esperança frágil de um milagre...
Nascimento abrupto, inesperado e cruel. Pulmões mal formados, incapazes de absorver e exalar a costumeira energia infantil. Braços e pernas que se agitavam de forma descoordenada, sem perspectivas de virem a embalar uma boneca e a correr pelas calçadas e jardins.
Os sons do Natal ecoaram distantes naquele ano. Nem adiantava contar à menina que festa era aquela, falar do Menino Jesus ou do Papai Noel, de famílias reunidas para passar a noite alegremente. Que alegria haveria na distância implacável entre a casa e o hospital? Que entendimento poderia ela ter dessa data ou de qualquer outra?
Doze dias se passaram. Penosos, lentos e, ao mesmo tempo, curtos. Insuficientes para uma vida desejada.
Bastaram, porém, para que ela fosse amada e deixasse profunda saudade.
Afinal de Contos..., ed. Illuminare, Torres, RS, 2019