Ela, na janela
Parece que foi ontem...
Acordava devagarinho, pelas 6h, todas as manhãs.
Dia útil.
Lá embaixo, no horizonte, os olhos avistavam o sol nascente.
Horizonte aberto, amplo, reto em que o céu parece tocar
Vestido errado/certo
A mente a cruzar a fronteira realidade/fantasia.
Pela janela, via o ônibus passar.
Um grande retângulo a se mover.
Barulho do freio cedendo, rua asfaltada.
Realidade exposta nos tons de rosa e laranja pastel.
A manhã já começava a enrugar.
Pombas, aqui e acolá, a arrulhar sem medo.
Raios de sol
Esforçavam-se para adentrar em meio aos prédios.
Passarinhos a cantar.
Quaresmeiras cheias
Cheiro do doce
Tabuleiro
Tachos quentes
Amendoim Pralinés
Vaivém – “tanta gente”
E ela estática na janela
No meio da casa
No meio da rua
No meio do mundo.
No meio do nada
Foto: A menina Sentada, de Cândido Portinari.