Eliana Santos - Entrevistada

Eliana Santos - Entrevistada

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Eliana Santos, nasceu e vive em São Paulo, autora dos livros “Estranhos no castelo” e “Aquiles – uma história de amor e de cólera”. Professora, dedica-se com estima a leitura e a escrita. Escreve com o pseudônimo Cristiano Maria Guerreiro.

“Inseri este conto numa narrativa maior. Nela Aquiles, o herói grego, nasce filho de mãe solteira,  e mora numa comunidade carioca.  Sua mãe tenta a todo custo afasta-lo da violência. Ele se refugia no Exército e faz carreira militar. Até que, chamado a atuar na intervenção militar ocorrida entre os meses de fevereiro e dezembro de 2018, se vê novamente nos becos de sua infância.”

 

Boa leitura!

 

Escritora Eliana Santos, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que a motivou a ter gosto pela arte de escrever?

Eliana Santos - Desde menina cultivo um amor desmesurado pelos livros. Eles foram e ainda são refúgio, consolo e companhia diante das muitas perdas que sofri, durante os períodos de angústia e de solidão que de vez em quando vêm bater a minha porta. A beleza das narrativas, a coragem dos personagens no manejo ou confronto de suas crises me ensinaram a resistir, a apreciar o belo, a sonhar a ser mais do que sou. Ao lecionar para crianças fui tomada da necessidade de escrever, seja porque me pediam histórias novas, seja porque queria que soubessem que os escritores são pessoas de carne e osso. E também para encorajá-los a escrever. Ler e escrever liberta. Eu queria que meus estudantes fossem livres. Assim, comecei a escrever pequenos contos para eles.

 

O que a inspirou a escrever “Aquiles - uma história de amor e de cólera?” com o pseudônimo Cristiano Maria Guerreiro?

Eliana Santos - A admiração por aqueles que possuem um espírito inquiridor e combativo, como Nelson Mandela, Gandhi e Thurgood Marshall, o mesmo espírito de Aquiles, com a diferença de que lutaram por igualdade e justiça e este para não ser esquecido. Quando a peste veio ceifar os gregos ele foi o único a se perguntar do porquê, o que resultou em sua suspensão. Ele foi também o único a não bajular Agamêmnon, um líder vaidoso, cruel, vingativo e invejoso. Aquiles ganhou meu coração quando disse a ele: “Governa covardes, se não tua insolência já teria findado.”, nas primeiras páginas do Ilíada. Eu me peguei perguntando a mim mesma, indignada, quando soube dos 1151 mortos em nove meses de intervenção militar no Rio de Janeiro, por que motivo aqui não havia também a intervenção dos deuses. E então, o que para mim começou como um desafio de escrita – ambientar em nossos dias a vida de um herói grego que eu admirava-, transformou-se em expressão da minha indignação diante do extermínio dos jovens de sexo masculino, negros e pobres, protagonizado por um Estado assassino, que lhes nega acesso aos direitos de cidadania e desenvolvimento. A minha vontade de justiça me fez optar por escrevê-lo sob pseudônimo, pois eu queria que a história aparecesse e não a escritora.

 

Apresenta-nos a obra (sinopse)

Eliana Santos - Brasil. O Presidente da República decreta a intervenção federal no Rio de Janeiro. As Forças Armadas sobem os morros e a cada operação se batem de morte com os traficantes. A população treme a cada disparo e ônibus queimado. Aquiles, grande guerreiro grego, vem caminhar entre os mortais. Ele nasce numa casinha simples e é criado pela mãe, que tudo faz para mantê-lo longe das garras da violência. Em vão. Aquiles tem espírito guerreiro e se sente atraído pelas armas. Ele ingressa no Exército brasileiro e quando chamado para combater nas mesmas ruas em que crescera não hesita. Esta noite, porém, ele tem uma batalha pessoal. Avança pelos becos tortuosos das favelas para vingar a morte do seu amigo, assassinado pelo Dono do Morro. Este confia nos seus soldados, nas suas armas e no anonimato do seu esconderijo. Contudo, nada disso será capaz de protege-lo da fúria do herói.

 

Quais os principais objetivos a serem alcançados por meio da história do livro?

Eliana Santos - Que o leitor se identifique com seus personagens, que aprenderam a usar seu poder e a serem externamente o que eram internamente e assim souberam dar sentido à opressão vivida: fogo que forja heróis e heroínas. Temos o soldado que questiona o papel das Forças Armadas num país que descaradamente desrespeita os princípios democráticos presentes em sua Constituição; a garota solitária que picha muros e escreve panfletos em protesto à violência protagonizada pela polícia e pelo Estado na favela em que trabalha; os líderes comunitários que se unem por um dia para evitar que a morte ceife uma vida, com o lema “Hoje ninguém morre no Rio.

 

Por que ler “Aquiles”?

Eliana Santos -  Aquiles é uma metáfora poética dos que foram feridos de morte mas se recusaram a sucumbir. Um eco, um movimento psíquico para fora desse caos, que insiste em nos acostumar com a morte aos montes dos desassistidos, dos esquecidos. Leiam-no, pois em Aquiles há o dedo que aponta para a Beleza que reside nas belas histórias e em seus personagens, porque ele nos inspira, porque nos sussurra aos ouvidos as verdades que nos movem.

 

O que mais chamou a sua atenção enquanto escrevia a trama?

Eliana Santos - Aquiles é um dedo apontado para uma ferida que ninguém quer ver no Brasil. Mas eu não sabia desse seu propósito quando iniciei sua escrita. Só depois de concluído é que me dei conta da força polissêmica dos seus personagens e do livro como um todo; dos seus dois planos de exercício de resistência, individual e coletiva. Só em dezembro, quando enviei o livro para a editora que percebi que a feitura do livro durou os mesmos nove meses da intervenção... Veja, eu não planejara as semelhanças do levante das lideranças comunitárias nos mesmos moldes das 13 colônias inglesas que culminaram na Independência Norte- Americana e das suas mesmas reinvindicações, nos moldes de Hobbes: a de que o contrato social rompido se o monarca colocasse em risco a vida dos cidadãos ou não os protegesse ... Eu acredito que as Musas nos ditam o que escrever, que as histórias nos chegam prontas. Eu só queria me curar da dor de ver nossos meninos despoliados de tudo, até do direito de viver, sob a conivência dos poderes públicos e a indiferença da grande mídia. A Musa, por sua vez, tinha outros planos.

 

Descreva o livro em duas palavras

Eliana Santos - Impactante e inspirador.

 

Onde podemos comprar o livro?

Eliana Santos - No site da editora Calíope (www.editorialcaliope.com ) e no Amazon, a partir de 11 de abril.

 

Quais seus principais objetivos como escritora?

Eliana Santos - Escrevo pelas crianças, pelos meninos e meninas. Não foi algo planejado. Meu afeto e preocupação por eles, que me são viscerais, levaram-me à escrita. Cada conto um parto, doído e necessário. Escrevo, apago... escrevo, apago... Porque a Verdade vem me pedir a palavra e fica batendo a minha porta, sob diversas vestes e só consigo vê-la se ela vestida de poesia ... Ela me fez escritora. Sou sua porta-voz, cativa de sua Beleza, tal qual Harum Al Rachid num dos contos de Malba Taham. Que a minha escrita, e aqui cito Milton Nascimento, faça acordar os homens e adormecer a crianças.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Eliana Santos. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Eliana Santos - Somos deuses e deusas. Caminhamos adormecidos e neste estado nos deixamos dominar por esse mundo mesquinho, doentio e violento. Tenho esperanças de que acordemos. Acredito que a leitura, a escrita e a literatura são essenciais nesse processo de reencontro de nós mesmos. E, ao lembrarmos quem somos, forjaremos com nossos corações, coragem e força um mundo digno de nossa presença, regido pelo amor, respeito, igualdade e justiça.

 

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