Era um ninho de passarinho
A frente da minha casa era toda sombreada
Por uma árvore que eu mesmo tinha plantado.
A raiz foi crescendo, o passeio danificando,
Aquela árvore mandei cortar, contrariado.
Eu não desconfiava que lá na copa havia
Um ninho de passarinhos com ovos para chocar.
Vi tudo cair ao chão: os ovinhos destruídos,
Um casal de passarinhos, desorientado, a voar
Do poste, para o portão, do portão, para o telhado,
Como numa dança triste, o trajeto triangulado,
A alma destroçada e o coração partido.
Comigo, o remorso, hoje vivo carregando,
Pelo sofrimento daquelas avezinhas esvoaçando,
Cujos filhotes amados morreram sem ter nascido.