EU E TU COMPLETUDE
Vejo as tuas mãos calejadas
A torcerem o ferro da vida
Construindo os sonhos
Que de tão atrevidos
Quedam-se do alto
Ainda que seja reflexo finito.
Vejo o relógio caminhar
No sentido inverso
Para que eu tenha os dois lados do tempo
E conheça o inteiro
E tenha o corpo
Entorpecido do prazer da vida.
Vejo as tuas mãos
Dedilharem as cordas
Dando som a um mundo que se recria
Emoldurando o sol que nasce
Deflorando as montanhas à minha frente.
Sinto as carícias que jogas no ar
E o meu corpo em êxtase
Apanha-as e come-as esganado
Alimentando a ternura de o constante nascer.
Vejo-te infinito de mim
Nas profundezas dos olhos
Que me comem esganados de amor.
Vejo-te em mim mesma
Único pedaço de vida que tenho.
Lígia Beltrão